Economia

Unidade pomerodense da Porcelana Schmidt poderá ser ativada novamente

Assembleia geral irá votar pela aprovação, ou não, de um Plano de Recuperação Judicial

27 de outubro de 2020

O futuro da Porcelana Schmidt, uma das mais tradicionais empresas pomerodenses e do ramo no Brasil, poderá ser definido nesta terça-feira, 27 de outubro. Isso porque será realizada uma assembleia geral, marcada pela Justiça, na qual os credores votarão pela aprovação ou não do Plano de Recuperação Judicial da empresa. O documento é uma proposta do Grupo Schmidt para o pagamento de suas dívidas, cujo passivo atual chega aos R$ 71 milhões.

A votação, no entanto, só acontecerá caso haja quórum. Se isso não acontecer, uma segunda convocação já está agendada para 03 de novembro, para decidir o futuro da Porcelana Schmidt.

O Plano prevê uma reestruturação significativa do grupo. Caso seja aprovado, uma das principais ações é a criação de uma Unidade Produtiva Isolada (UPI), que receberá a operação que hoje é feita em Campo Largo (PR), atual sede do Grupo Schmidt. A intenção é repassar a fábrica para algum investidor, quitando parte das dívidas trabalhistas com o dinheiro da venda.

 

A unidade fabril de Pomerode terá um papel fundamental para o futuro da marca, caso o Plano seja aprovado, mesmo após a recente redução do quadro de funcionários da empresa na cidade. Segundo o advogado do Grupo Schmidt, Eduardo Agustinho, a sede original da empresa voltaria a ser operacional.

“A unidade fabril de Pomerode voltaria a ser operacional, concentrando a produção das peças da marca Real, aproveitando o espaço existente. No Plano também pretende-se valorizar o potencial turístico do local, criando uma fábrica-modelo, que no futuro poderia ser visitada por turistas. Outra pretensão é locar parte da área da fábrica pomerodense, que fica em um prédio histórico, para exploração comercial e turística, com possibilidade de uma parceria público-privada”, afirma.

Também seria mantida a unidade de Suzano (SP), onde é produzida a massa para a fabricação das porcelanas, que forneceria o produto para a unidade de Pomerode e também para outros possíveis compradores.

Ainda de acordo com o advogado da Schmidt, a proposta é que a empresa possa continuar explorando a marca por um período de até 10 anos sem a necessidade de pagar royalties aos novos donos.

Este não será o primeiro plano de recuperação judicial apresentado pela Schmidt. Um documento chegou a ser aprovado pelos credores, mas a Justiça mandou refazer o processo alegando inconsistências. Caso os credores rejeitem a proposta, abre-se caminho para a decretação de falência da empresa.

 

História da empresa

A história da fábrica em Pomerode começou em 1945, quando a Família Schmidt decidiu se mudar novamente para Santa Catarina, com a ideia fixa de fundar a Porcelana Schmidt. Esta ideia tornou-se realidade em 19 de dezembro do mesmo ano. Os fundadores, de acordo com um levantamento feito pela historiadora Angelina Wittmann, foram Hans Herwig Schmidt, Hans Ernst Schmidt, Ailhen Krämer, Arthur Leopold Schmidt e Rodolph Pedro Schmidt. Com isso, a Porcelana tornava-se a 3ª fábrica de cerâmica do Brasil.

Em 1948, a Família Schmidt admitiu novos acionistas e, com o novo quadro de entrada de capital, adquiriu as ações da Porcelana Real Ltda., de São Paulo. Em 02 de janeiro de 1954, foi fundada a Porcelana Steatita e, em 1956, a Porcelana Schmidt adquiriu o controle acionário da Cerâmica Brasileira de Campo Largo (PR), transformando-a, também, em fábrica de cerâmica, Porcelana Steatita. 

Em 1972, as três empresas se fundiram, surgindo o Grupo Schmidt a partir de três cidades, em três estados distintos: Pomerode, Campo Largo (PR) e Mauá (SP). Neste período, a empresa chegou a produzir mais de um milhão de peças de porcelana por mês, a partir de uma estrutura de 60.000 m2 e com, aproximadamente, 1.500 funcionários.

Em 1991, as três fabricas passaram por uma reestruturação e não usaram mais as marcas Steatita e Real, trabalhando todas sob a marca Porcelana Schmidt e sobre o símbolo da Coroa. Durante a década de 1990, a empresa detinha 80% do mercado nacional do setor de porcelana.

 

Declínio

No início deste século, no entanto, começaram a surgir as dificuldades financeiras, aceleradas pela concorrência de produtos asiáticos que chegavam ao país. Em 2008, a filial de Mauá (SP) pediu recuperação judicial. Oito anos depois, no dia 24 de maio de 2016, em meio à grave recessão econômica enfrentada pelo Brasil, o grupo fez um novo pedido, desta vez abrangendo todas as suas operações – incluindo as de Pomerode e Campo Largo (PR).

Na petição apresentada à época, a companhia alegou que era “notório o quadro de crise política e econômica no qual o Brasil se encontra e os efeitos negativos desse cenário para as empresas cujas atividades têm dependência relevante do mercado interno”. As vendas sofreram queda abrupta.

Àquela altura, a filial de Mauá já havia sido desativada e a Schmidt ainda amargava prejuízos sofridos entre 2005 e 2008, resultados “da invasão no mercado brasileiro da porcelana chinesa”, como dizia a petição. A empresa também tinha altos custos de produção, energia e distribuição e dependia de descontos de títulos por meio de factorings para girar a operação comercial, o que agravava ainda mais o caixa.

O pedido de recuperação judicial foi deferido menos de um mês depois de ser protocolado, no dia 14 de junho de 2016. Na época, a dívida da Schmidt era de R$ 30,8 milhões. Esse número mais que dobrou em cerca de quatro anos, saltando para R$ 71,2 milhões, segundo consta em relatório mensal das atividades apresentado pela Credibilitá, empresa responsável pela administração judicial da Schmidt.

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