Não é tão fácil deixar de lado
Uma experiência de grandes vivências e que prova que deixar nossos hábitos de lado é mais difícil do que parece
Na nova série do Jornal de Pomerode, que se chama, “Deixei de lado por uma semana”, nós funcionários do jornal deixamos de lado por sete dias algo que faz parte da nossa rotina, do nosso costume, ou seja, algo que faz parte da nossa vida e que por uma semana, não vamos fazer, ou pelo menos tentar.
Eu me desafiei a ficar uma semana sem carro e usar minha magrela de duas rodas, para me deslocar de casa ao trabalho. Sim, do nada os 9 km de carro que eu levava em torno de 10 minutos para fazer, foram trocados por longas pedaladas de 40 minutos e muito suor e cansaço.
Logo no primeiro dia, além do desafio de ir de bike para o trabalho, surge outro maior, o acordar mais cedo.
Obviamente, se ir de bicicleta para o trabalho teria que acordar mais cedo pois iria levar em torno de meia hora a mais para pedalar até o trabalho, com toda a preguiça, acordo em torno de uma hora antes e depois de um bom café, é hora de botar uma roupa confortável, subir na bike e pedalar. Os primeiros 10 minutos de pedalada foram tranquilos, mas para uma pessoa que estava há mais de dois anos sem sentar em uma bicicleta, obviamente essa situação iria mudar. Dito e feito. Dores na perna fizeram com que a pedalada fosse substituída por um pouco de caminhada para aliviar.
No caminho para o trabalho, encontro um pai de um amigo que há tempo não via, aproveitei o momento para ver como estavam todos da família e um pouco de papo ali, logo me despedi, pois o caminho era longo. De volta a pedalada, começo a pensar na primeira vantagem de estar indo para o trabalho de bike, se estivesse de carro, uma buzinada seria o máximo de contato que teria com ele, já de bike pude dar um aperto de mão e desejar um bom dia, pouco mais adiante, pessoas conhecidas me identificaram e ai as buzinadas foram para mim e gritos de boa sorte na rua e nas redes sociais foram muitos.
No percurso, algumas outras vezes tive que trocar a pedalada por caminhada para aquele alívio de um sedentário não acostumado a atividades físicas. E até que enfim, depois de muito suor, chego ao trabalho. Logo que entro no jornal os colegas começaram a brincar um pouco comigo, pois a tempo estava enrolando para dar início ao desafio.
Depois de cumprida as horas de trabalho, hora de ir pra casa, me pego procurando a chave do carro por alguns segundos, e eis que lembro que minha condução da semana não tem chave e que tenho mais 9 km para pedalar, totalizando 18 km logo no primeiro dia. A volta foi um pouco mais cansativa e mais longa do que os 30 minutos que levei na ida. Na volta foi quase uma hora. Chegando em casa, um bom banho e o pensamento para o segundo dia me fizeram dormir cedo e me preparar psicologicamente para mais 18 km de pedaladas.
O segundo dia já foi um pouco menos cansativo. Ao meio-dia, fui até o banco de bicicleta, estava tentando adaptar o meu meio de transporte da semana a minha rotina, mais notei que muitos afazeres diários estavam sendo deixados de lado pelo tempo a mais que isso me consumia. Perdi a data de um boleto, pois não consegui chegar na lotérica a tempo, pois pedalando demorava um pouco mais.
Pude observar na volta pra casa paisagens e casas jamais antes observadas, passei a ver que em Pomerode as pessoas utilizam muito as bicicletas para levar compras do supermercado, pessoas deixando filhos em creche e até aquele amigo que dá carona pra outro na garupa pra escola, e também passei a observar dificuldades encontradas pelos ciclistas como calçadas de uso compartilhado com pedestres, onde o espaço é pequeno e o piso é desfavorável, em algumas partes as ciclo faixas se tornam estreitas demais e invadir a pista para dar passagens a outros ciclistas é inevitável. Notei muitos ciclistas que não usam a ciclofaixa sendo xingados pelos motoristas e com razão, pois a ciclofaixa oferece mais segurança para os ciclistas e está ali para ser usada.
Mas eis que na quarta-feira depois de ir voltar de bike do trabalho, a noite fui chamado para ver o jogo do “mengão” e tomar a tradicional cervejinha e na quinta-feira de manhã, acordo faltando apenas 10 minutos para o trabalho, estava atrasado.
Como iria tomar banho, tomar café e pedalar 9 km em apenas 10 minutos, pensei em pegar um ônibus, mas iria demorar mais de 40 minutos para o próximo ônibus, ou seja, tive que quebrar o desafio e me render ao carro, pois era único meio de transporte que faria com que eu chegasse sem muito atraso ao trabalho.
E sucessivamente na sexta, dia de fechamento de edição, dia em que tudo aqui é correria, acabei vindo de carro novamente quebrando meu desafio de vez, mas com grandes lições. Chega-se a conclusão de que, para sair da rotina devemos começar de leve e não logo de cara pedalar 18 km por dia sem nenhum preparo, pois o cansaço físico é grande. E que a pessoa que tem muitos afazeres no dia a dia deve se programar para que nada fique de lado, pois se estamos habituados a uma rotina e algo nos toma pouco mais tempo, muitas coisas deixam de ser feitas, pois como diz o ditado “o tempo é precioso” e foi pela falta de tempo que fui o primeiro a descumprir o desafio, mas digo que pra mim foi muito gratificante, voltar a uma rotina que já vivia antes de ter carro e ver que, quando se habituamos a algo, fica difícil se desfazer. Não consegui ficar uma semana sem meu carrinho, mas sei o bem que me fez os três dias de pedaladas, calorias queimadas, ar puro respirado, paisagens apreciadas e uma bela história para ser compartilhada aqui com vocês no ” Deixei de lado por uma semana”.