Minotauro, a fera brasileira campeã mundial de Vale-Tudo em Pomerode
Minotauro. Lenda grega, cujo corpo é metade homem, metade fera. Antônio Rodrigo Nogueira é o Minotauro brasileiro, não o da lenda, mas o das lutas.
Minotauro. Lenda grega, cujo corpo é metade homem, metade fera. Antônio Rodrigo Nogueira é o Minotauro brasileiro, não o da lenda, mas o das lutas. Lutas de MMA, Mistura de Artes Marciais, ou o “Vale-Tudo”, como é mais conhecida esta modalidade e da qual é campeão mundial há três anos. O apelido não é mero acaso. Força, habilidade e nenhuma chance aos que cruzam seu caminho nos ringues fazem sua marca registrada. No sábado, dia 8 de maio, o lutador esteve em Pomerode, com Rogério, seu irmão gêmeo, também lutador e com seu representante no Brasil, José Augusto Cerqueira. Eles se reuniram com Gilmar Knaesel, secretário da Organização do Lazer, para apresentar um projeto para realização de um circuito de MMA no País, sendo que a primeira das seis ou oito etapas, aconteceria em julho, em Florianópolis. Na oportunidade, mostraram ao secretário a importância deste esporte, que se popularizou principalmente nos Estados Unidos e no Japão. O retorno financeiro e de marketing para os patrocinadores também é algo nada desprezível. Gilmar considerou o projeto uma idéia séria a ser estudada e, como se trata de um evento muito grande, e que depende de investimentos de grande porte, irá levar para discussão com o Governo do Estado. Posteriormente dará uma resposta, mesmo porque no Brasil, a MMA não é tão difundida, embora tenha um bom público cativo. Sua primeira luta nesta modalidade foi aproximadamente aos 20 anos. Hoje, Minotauro é considerado um fenômeno no Japão, onde faz participações em vários programas de televisão. Sua imagem é um verdadeiro produto de marketing. Vende mais de 500 camisetas por dia com sua imagem e vários produtos licenciados, dentre elas, o Play Station II, um dos produtos mais famosos de sua linha. Defende o título de campeão mundial de MMA, categoria peso pesado (acima de 93 quilos), há três anos. Para subir aos ringues, a bolsa (o que ganha) é nada mais nada menos do que US$ 500 mil. Na última luta, onde defendeu o título mundial, ganhou R$ 2,5 milhões, luta assistida por mais de 80 mil pessoas em um ginásio no Japão e transmitido para mais de 22 milhões de telespectadores do mundo inteiro, através de canal fechado, como a ESPN Brasil, por exemplo, que transmite campeonatos e disputas deste tipo. Uma história que iniciou na Bahia e se tornou internacional Antônio Rodrigo Nogueira nasceu em 2 de junho de 1976, na cidade de Vitória da Conquista, Bahia. Filho de uma família numerosa, possui além do irmão gêmeo Rogério, os irmãos Júlio, Jamile e Juliana. Aos 5 anos, iniciou sua vida nas artes marciais, entrando para uma academia de judô com Rogério, onde permaneceu até os 8 anos. Com 10 anos, Rodrigo passou um por acidente que tinha tudo para se transformar em uma tragédia interminável. Um caminhão passou por cima de seu corpo, deixando o diafragma rompido e perfurado pelas costelas quebradas, o fígado colado ao pulmão e a perna esmigalhada. Isso aconteceu quando ele o irmão Rogério brincavam na rua e um caminhão deu ré, derrubando-o e passando lentamente por cima de seu peito. O irmão ainda tentou puxá-lo pelo braço, mas não conseguiu. Minotauro só teve tempo de tirar a cabeça da frente da roda, enquanto sentia todo aquele peso esmagando seu peito, conforme conta. Depois de quatro dias em coma e um ano internado no hospital, o guerreiro estava pronto para enfrentar um futuro nada planejado, mas de muito sucesso. Ordenado pelos médicos, recomeçou a prática de esportes voltando ao judô, adquirindo logo a faixa verde. Aos 14 anos se mudou para Salvador, para fazer escola técnica de eletrônica. Dividia seu tempo entre a escola e os treinos na acadêmia Triathlon, onde começou a praticar boxe com Luís Carlos Dória, treinador de Arcelino Popó na época. Chegou a fazer luvas com Popó em uma apresentação da academia em um shopping da cidade, onde chegou a cair. Mas, como diz Rodrigo “de chão, ele não entende nada.” Em 1996, ainda na Triathlon, saindo dos treinos de boxe, dava umas olhadas nas aulas do recém chegado Guilherme Assad, faixa preta do De La Riva, relembrando seu tempo de judô. Acabou aceitando o convite de um amigo para fazer uns treinos. Ficou impressionado por ter sido finalizado diversas vezes por uma pessoa 20 quilos mais leve que ele e decidiu entrar para o Jiu Jitsu. Três semanas após, foi campeão da faixa branca na II Etapa da Copa Edson Carvalho, ficando em segundo lugar no absoluto, tudo sabendo só dar queda, passar a guarda e estrangular com o ezequiel. E foi assim que o mestre das finalizações começou sua trajetória. Sempre gostou de chão e foi incentivado pelas fitas que assistia de Rickson e Royce Gracie lutando e por fitas antigas de vale tudo. Sofreu muito preconceito nas suas lutas por títulos fora da Bahia, mas não se deixou abalar. Em 1999, chamado por um amigo, Marcelo Grosso, para os Estados Unidos onde seria apresentado a um conhecido dele, o Jamie Levine, dono do World Extreme Fight (WEF), não perdeu tempo e foi morar fora. Ganhou o Panamericano de Jiu-Jitsu e recebeu a faixa preta. Recebeu faixa preta também, participando de campeonatos estaduais de judô por lá. Conheceu o Levine e fez o primeiro Vale-Tudo no WEF. Depois da vitória, resolveu ficar por lá onde treinou Wrestling e Muay Thay, e se dedicou mais ao Vale-Tudo. Rodrigo resolveu voltar ao Brasil após quase dois anos de muitas conquistas, deixando uma academia que abriu nos Estados Unidos, trazendo três vitórias no WEF e várias lutas no King of Kings. Voltou em busca de melhor treinamento, pois nos Estados Unidos não tinha com quem treinar o Jiu-Jitsu. Nas lutas, a sua atuação mais brilhante foi no Pride 16, um dos mais importantes torneios de vale tudo do Japão, onde “destruiu” Mark Colleman, outro consagrado da história do vale tudo. A partir daí, o baiano “Minotauro” se firmou no mundo do Vale-Tudo e a temida fera da mitologia grega vira ídolo da nação japonesa.