Menino de 13 anos morre eletrocutado
O que era para ser uma simples brincadeira de crianças acabou em uma lamentável tragédia no final da tarde de domingo.
O que era para ser uma simples brincadeira de crianças acabou em uma lamentável tragédia no final da tarde de domingo. O menino Jairo Luan Jantz, de 13 anos, morreu em decorrência de um choque, após ter encostado no alambrado, atrás de uma das goleiras do campo de futebol do Nacional, no Alto da Serra. O jogo entre o Nacional e o Atlético Pomerodense já havia terminado, momento em que várias crianças, já por hábito, entraram no campo para brincar com a bola. Segundo os familiares, fios de alta tensão estavam soltos, encostando-se ao alambrado. Assim que a foto-célula acendeu, a corrente elétrica foi acionada. Jairo teria corrido para socorrer o amigo Maurício Grützmacher, de 10 anos, que foi o primeiro a levar o choque. Ele nem chegou perto do amiguinho, vindo a tocar primeiro no alambrado, quando recebeu a descarga que estourou a veia aorta, causando sua morte. Na verdade, ele serviu como fio terra, recebendo toda a descarga elétrica, com o agravante de estar descalço naquela hora. Os bombeiros de Jaraguá do Sul atenderam a ocorrência, levando Maurício ao Hospital Jaraguá, e Jairo para o Hospital São José. Um dos médicos informou à mãe de Jairo, Adélia, que o menino já havia chegado sem vida. Na segunda-feira à tarde, familiares de Jairo, disseram nunca terem visto tamanha negligência em um campo de futebol. Na terça-feira, os pais de Jairo, Romeu e Adélia, estiveram no Nacional, acompanhado o trabalho de perícia feita pela técnica criminalista Jucélia Pires Moreira, juntamente com dois funcionários da Celesc, que cortaram os fios que conduziam a eletricidade ao poste junto ao alambrado. Enquanto o pai, Romeu, inconsolável pela perda do filho, não queria comentar a tragédia, a mãe, Adélia, ressaltou que a família quer apurar a responsabilidade. “Sei que nada vai trazer meu filho de volta. Mas esta é uma maneira de evitarmos que outras pessoas passem pelo sofrimento que nós estamos enfrentando”. O presidente da LPD, Waldemar Buse, o Cascudo, se encontrava indeciso sobre a decisão a ser tomada. No entanto, já afirmou que o campeonato não vai parar. “Estou aguardando uma decisão da Federação, pois não tenho como tomar qualquer atitude agora”. Estranhamente informou que nenhuma vistoria foi feita nos estádios antes do início do campeonato deste ano. Estas aconteceram somente no ano de 2004. O amigo que sobreviveu lembra os momentos finais Jairo Jantz e Maurício Grützmacher eram amigos e tinham muita coisa em comum. Uma delas era o prazer de brincar com a bola nos intervalos e finais de jogo no campo do Nacional. E para permanecerem mais perto da bola, eram gandulas do clube. Jairo ainda festejava o fato de disputar este ano o Moleque Bom de Bola, pela sua escola, a Almirante Barroso. No domingo, Maurício, o primeiro a receber a descarga elétrica do alambrado, viu seu amigo morrer eletrocutado a poucos passos de onde ele estava. Na terça-feira pela manhã, o menino de 10 anos ainda permanecia em casa, recusando-se ir à escola. Nas costas e no braço direito, o sinal do choque permanecia. Com o semblante demonstrando o que sentia pela falta do amigo, Maurício disse ter visto tudo acontecer. “Nós estamos jogando bola e ela foi parar atrás da goleira. Eu fui buscar e me segurei no alambrado”. Em meio ao desespero de estar levando um choque, Maurício começou a gritar por socorro e viu seu amigo vindo em sua direção. “Jairo tentou chegar até onde eu estava, porém pelo outro lado da goleira. Eu acho que ele escorregou e se apoiou no alambrado levando choque também”. Maurício lembra que sentiu o choque que começou nos pés e acabou na cabeça, chegando a enrijecer os músculos, ficando na ponta dos pés. “Quando chegou na minha cabeça, fechei os olhos para dormir, só acordando com os gritos do meu pai”, conta. E assim, as brincadeiras com a bola e os planos terminaram com a morte de Jairo. A amizade vai permanecer para sempre. Dirigentes acreditam que uma bola tenha soltado o fio Até sábado à noite, não havia nada de errado no alambrado do campo do Nacional. A declaração foi de Mário Borchardt, sócio e colaborador da sociedade Nacional. Ele lembrou que no sábado houve a festa de rei e nada havia sido constatado. Para ele, no domingo, dia do jogo e da fatalidade, uma bola deve ter batido nos fios, tendo soltado um deles, que ficou sobre o alambrado, vindo a ocasionar mais tarde, a morte de Jairo Luan. Mário estava presente no local e quando viu o braço de Maurício no alambrado, pensou, assim como outras pessoas, que o braço estava preso. “Quanto ao Jairo, imaginamos que ele correu contra o alambrado tendo então recebido a descarga elétrica”. Quanto ao alambrado estar preso no mesmo poste em que corre a energia elétrica, ele admite que é incorreto. Porém lembra que, quando o poste foi colocado no local, era para fins de alambrado. “Depois, alguém pensou em iluminar o pátio da sociedade e aproveitou-se o mesmo poste”, diz ressaltando que esta pode ser uma das hipóteses. Reconhece, no entanto, que saber como o alambrado e a energia estão fixos em um mesmo poste, não vai mudar nada. “Que está incorreto, não se discute, mas não vai mudar nada infelizmente”. Na manhã de segunda-feira, Mário levou dois eletricistas para isolar a ponta do fio e evitar novas tragédias. Como o campo foi interditado pela delegado Augusto Beduschi, a sociedade vai esperar a liberação do mesmo para então providenciar postes separados. A possibilidade do Nacional sair do campeonato foi descartada por Mário. Quanto a mudanças na estrutura, ele enfatiza que “vamos esperar o resultado da perícia para sabermos se haverá mais coisas a fazer”. Quanto a fechar a sociedade, ele acredita que isso é punir a juventude. Uma cena que ninguém jamais esquecerá Ricardo Alexandre, ex-jogador do Floresta e do Botafogo, conhecido por Ricardinho, foi um dos primeiros a correr em direção a Jairo e socorrê-lo. Antes de tocar no menino, alguém desligou o disjuntor, o que ocasionou o corte da corrente de energia elétrica. Quando chegou próximo dos meninos, viu que o primeiro, Maurício, estava apenas desmaiado. E Jairo já não respondia. O corpo de Jairo foi retirado do alambrado e colocado no campo. Neste momento, Ricardinho e mais uma pessoa perceberam que o menino não estava respirando. Eles tentaram reanimar Jairo com respiração boca-boca e massagem. Ricardinho conta que a respiração de Jairo ainda voltou por umas quatro vezes e durava de 10 a 15 segundos. “Depois disso ouvimos um ruído estranho emitido pelo menino e em seguida começou, a jorrar sangue do nariz, boca e ouvidos. Pensamos que ele havia cortado a boca”. Bastante chocado com a cena, Ricardinho lembra que viu nitidamente três fios desencapados, em contato com o alambrado. “Havia muitas crianças brincando em um momento e no outro, todos chorando. Foi uma cena terrível. Eu nunca tinha visto nada assim. E esta cena vai ficar marcada para sempre, ainda mais que ouvi alguém dizendo que só um pai sabe a dor que é perder um filho”.