Meio Ambiente

Meliponicultura: uma prática que beneficia criadores de abelhas e o meio ambiente

Saiba como a criação de abelhas sem ferrão, em nossa região, pode contribuir para o equilíbrio ambiental

9 de novembro de 2024

Foto: Isadora Brehmer / JP

Fundamentais para o equilíbrio ambiental, pois realizam a polinização, as abelhas exercem uma função indispensável ao ecossistema.

No mundo, segundo Sérgio Luiz Althoff, do corpo docente da Universidade Regional de Blumenau (FURB), doutor em Biologia Animal, Biólogo e Meliponicultor, há mais de 20 mil abelhas descritas, enquanto no Brasil já somam mais de 1.500. “Destas, 300 são chamadas de abelhas sem ferrão pois tem o ferrão atrofiado e têm outras formas de defesa. Em Santa Catarina temos cerca de 46 espécies diferentes, desde grandes como uma abelha com ferrão, até pequenas do tamanho de um mosquito ou borrachudo”, comenta Althoff.

Ainda segundo o especialista, o trabalho de polinização é, em sua maioria, realizado por abelhas, daí a sua importância à produção de alimentos. “A polinização das plantas pode ser efetuada de diversas maneiras, vento, aves, morcegos e insetos. Dentro dos insetos temos diversos polinizadores, como moscas, borboletas, besouros abelhas e outros. No entanto, praticamente os mais importantes são as abelhas pois mais de 70% das plantas cultivadas para nosso uso são polinizadas por elas”, ressalta.

Em Pomerode, Paulo Gregório da Costa é meliponicultor, ou seja, cria abelhas em sua propriedade. Segundo Costa, a criação existe há cinco anos, depois de ter feito dois cursos, pelo Senar e pelo Instituto Federal. “Eu havia capturado uma abelha Jataí e, a partir de então, comecei a criação delas”, conta o meliponicultor.

Em sua propriedade, Costa mantém 70 enxames, cada um em sua caixa, das espécies Mandaçaia, Bugia e Jataí. Estas abelhas não têm ferrão e, por isso, produzem pouco mel, em comparação com as espécies que possuem ferrão.
“As abelhas que possuem ferrão chegam a produzir por ano cerca de 20 litros por ano. Já a sem ferrão produz aproximadamente 300 a 500ml, podendo chegar a pouco mais de um litro, apenas”, explica o meliponicultor.

Entre os cuidados necessários com as abelhas, Costa destaca que, no inverno é necessário observar se tem predadores ou as chamadas abelhas-limão, que faz saques nos enxames. Além disso, nesta estação, algumas é preciso fazer um reforço na alimentação delas, com o oferecimento de água com açúcar. Já no verão, é preciso observar se os enxames cresceram e, caso sim, é necessário fazer a divisão deles.

“Eu tenho a criação como um hobby, uma terapia. Deus faz tudo perfeito e as abelhas são seres que vivem em comunidade. Jesus Cristo nos fala que é importante que os irmãos vivam em união, e as abelhas nos ensinam isso. Para quem quiser adquirir um enxame agora, aconselho a pegar mais de um, pois como elas vivem em comunidade, elas acabam se ajudando mutuamente. Se houver duas caixas e faltar alimento em uma, as demais são solidárias, pelo menos nas espécies que eu crio. Ainda, vejo nas árvores frutíferas como elas contribuem, pois fazem a polinização e assim ajudam a aumentar a quantidade dos frutos e melhorar a qualidade deles”, ressalta Costa.

Foto: Isadora Brehmer / JP

 

O doutor em Biologia Animal, Biólogo e Meliponicultor da FURB reforça que as abelhas estão intimamente ligadas às cadeias naturais servindo como recicladoras e alimento para outras espécies. Caso as abelhas deixem de estar presentes, entrando em extinção, por exemplo, muitas das plantas podem deixar de existir pela ausência delas.

“Isso, para a manutenção da Biodiversidade seria desastroso, inclusive para o homem que teria fontes de renda e alimentação inviabilizada. Algumas pessoas chegam a dizer que não conseguiríamos sobreviver. Por outro lado, a presença das abelhas em locais nos quais há a produção agrícola promove aumento na produção pela polinização, mais laranjas, acerolas, pitangas, jabuticabas, etc. e como no caso dos morangos onde conseguimos frutas mais bonitas e perfeitas”, frisa.

Althoff comenta, também, que existe outro fato em relação às abelhas que merece atenção: a importação de espécies estrangeiras. Segundo o doutor, há três tipos de abelhas que são criadas em nossa região:

1º: Apis, que são abelhas com ferrão e exóticas (estrangeiras) vinda do outro continente. Estas produzem bastante mel por caixa, mas por causa do perigo pelos ferrões, não podem ser criadas em zonas urbanas e preferencialmente longe de casas. Quando foram introduzidas reduziram o número de nossas abelhas principalmente porque usam os mesmos lugares para os ninhos.

2º: Abelhas sem ferrão nativas do Brasil, mas que não ocorrem na nossa região, ou seja, para nós são exóticas.

3º Nossas abelhas sem ferrão – são as abelhas sem ferrão que ocorrem naturalmente em nossa região, sendo indicadas para criação pois evoluíram aqui.

Abelha chamada de mirim-guaçú. (Foto: Arquivo pessoal)

 

“Quando trazemos animais de outras regiões, podemos trazer enfermidades para as quais nossas abelhas não têm resistência e, com isso, podem ser exterminadas. Abelhas de fora poderão competir com as nossas abelhas por comida e por ocos de árvores, fazendo com que possa existir uma redução na nossa biodiversidade. Abelhas de fora (mesmo sendo brasileiras) não evoluíram com as plantas daqui e por isso podem não ser boas polinizadores e, com isso, podemos ter uma diminuição na produtividade de alimentos”, explica Althoff.

Por fim, o especialista reforça o quanto a criação de abelhas nativas da nossa região é uma atividade benéfica e importante.

“A criação de abelhas sem ferrão, que quando feita de forma consciente (sem trazer ninguém de fora) é uma atividade extremamente prazerosa, podendo ser familiar, com uma ou poucas caixas, para ter um animal para contemplação, ter um pouco de mel ou própolis e para polinizar a horta ou pomar, ou pode ser explorada de forma comercial, onde temos muitas caixas de abelhas para produção do mel e outros derivados da abelha como por exemplo e própolis. Nos dois casos essa atividade é chamada de Meliponicultura, que vem crescendo muito em nossa região”, finaliza o doutor.

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