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Libras: uma linguagem diferente

Para alguns pode parecer simples; para outros, é muito mais complexo e depende de intérpretes. É assim que Ana Carolina Carvalho comunica-se com as pessoas.

1 de junho de 2015

Ser ouvido e compreendido, é isso que todos querem. Para alguns pode parecer simples e basta comunicar-se. Para outros, o “simples” é muito mais complexo e depende de intérpretes. É assim que Ana Carolina Carvalho comunica-se com as pessoas que ainda não conhecem a linguagem dos sinais.
Ana Carolina tem 15 anos e é aluna do curso de Aprendizagem Industrial – Confeccionador de Moldes no Senai de Pomerode, onde tem a ajuda da intérprete Angélica da Rosa, que faz a interpretação e tradução das disciplinas.
Se agora Ana Carolina pode estudar, ouvir e ser ouvida, nem sempre foi assim. Quando menor, frequentava a escola e não tinha ninguém que a acompanhasse nesse processo de aprendizagem. “Quando era pequena e ia à escola, não havia intérpretes na sala. Eu ficava apenas sentada copiando o que estava no quadro. Achei que meu futuro seria um dos piores”, diz Ana Carolina, através de Libras.
A dificuldade na comunicação enfrentada por Ana é quebrada com um sorriso envergonhado e a alegria de ser, agora, parte conhecida da sociedade.

A educação
Ana Carolina estuda durante a manhã no Senai e possui intérprete durante as disciplinas. Os professores também estão buscando essa capacitação para quebrar paradigmas na educação. “É importante que tenhamos, pelo menos, um conhecimento básico da linguagem de sinais para que possamos compreendê-los também”, afirma a professora Antje Boddenberg. Esta conquista melhora e muito o aprendizado da aluna que, agora, pode compreender de forma correta o que lhe é ensinado.

Os amigos
A turma de Ana, no Senai, tem mais de 30 alunas. A dificuldade encontrada no início, agora não é mais o maior obstáculo entre os amigos. A falta de conhecimento em Libras foi saciada quando a intérprete Angélica fez uma aula para ensinar aos colegas sinais básicos de comunicação.
Ao chegar ao Senai, Ana estava em seu intervalo numa rodinha com as amigas, provando, mais um vez, ser maior e mais forte do que sua deficiência.

A intérprete
Angélica da Rosa é intérprete de libras desde 2009 no Senai. Ela acompanha Ana desde que a aluna entrou no curso, em fevereiro de 2012. A escolha pela profissão veio depois de um curso de Magistério. “Sempre quis ser professora e quando fiz magistério, tive as disciplinas de libras e braile. Além de ser uma área de grande abrangência, por não possuir muitos profissionais na área, é gratificante poder ensinar alguém através de Libras”, completa Angélica.
Em mais uma prova de que a paixão é o que te move, a intérprete não abre mão da profissão e afirma ser muito bom poder ser a ponte de ligação dos alunos surdos com o mundo.

A língua
Libras, a linguagem dos sinais, é conhecida por surdos e mudos e varia de região para região. “Não há uma linguagem universal de sinais”, completa a intérprete Angélica. Apesar de estar se popularizando, ainda é defasado o número de pessoas que consigam se comunicar com surdos.
A linguagem não é apenas a tradução do alfabeto brasileiro e gestualização da língua portuguesa, e sim, uma língua à parte. Quer conhecer uma curiosidade sobre a língua? Cada pessoa ganha um sinal para ser identificada, além do nome. Quem dá esse sinal é um surdo e ele é único e eterno. O sinal, normalmente, é dado a partir de uma característica da pessoa que o receberá, seja os longos cabelos ou o sorriso fácil. Gostou? Na turma de Ana, todos já possuem o seu sinal.

Concurso Cultural
Ana Carolina não cansa de aprender e em um Concurso Cultural do Senai, foi um dos cinco candidatos que chegaram às finais no Estado, sendo a única e primeira representante de Pomerode neste concurso.
O Concurso consiste na elaboração de uma redação sobre o tema: O Senai transforma a minha vida”.

Olimpíada do Conhecimento
A prova de que não existem limites para a superação está aqui. Ana Carolina é a única surda do estado de Santa Catarina que irá participar da Olimpíada do Conhecimento, promovido pelo Senai.
A Olimpíada ocorre em novembro deste ano, em São Paulo. Ana participará na área de costura. Mais um motivo para orgulho e uma nova conquista.

Mercado de trabalho
Dificuldades sempre existiram e existirão, para todos. No entanto, cabe a cada um de nós saber superá-las. O mercado de trabalho é duro com todos e exige capacitação. Sendo menor de idade, a única chance de entrar no mercado era com a opção do menor aprendiz. E foi exatamente isso que ocorreu. Além de estudar, Ana é integrante do menor aprendiz na empresa Malwee, em Pomerode.

Palavras de quem vive com a deficiência
Um tanto quanto envergonhada, Ana Carolina solicitou proferir algumas palavras sobre a sua deficiência auditiva. Eis que aqui estão:
“Eu preciso desenvolver a minha identidade e, para isso, preciso que as pessoas sejam ouvintes e aprendam a minha maneira de se comunicar, a Libras. Quando era pequena ia à escola e, sentada, apenas copiava o que estava no quadro, pois não havia intérpretes para mim. Achei que meu futuro seria um dos piores possíveis. Escolhi o Senai porque aqui tenho uma intérprete e posso me comunicar com os professores. Tive também a oportunidade de ser convidada a participar da Olimpíada do Conhecimento na área de costura, que acontecerá em São Paulo. Sou a única surda de Santa Catarina. Em uma nova oportunidade, sou menor aprendiz na empresa Malwee. Sou muito feliz por poder estudar e aprender”.
Com as palavras de Ana Carolina, só podemos confirmar que a limitação acontece para quem as impõem.

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