Geral

Fonte de inspiração e superação

Marciana Seiler Piske é sinônimo de pensamento positivo. Após sofrer um acidente e passar por provações, mostra-se
ainda mais forte e cheia de vida. Sua força de vontade é inspiradora e ganha corações por onde passa

29 de maio de 2015

A sua principal característica é o sorriso espontâneo, seguido pela alegria contagiante e o alto astral. E foi assim que Marciana recebeu o Jornal de Pomerode para conversar. Primeiro sobre o Zumba Beneficente a seu favor e, depois, sobre a garra e a vontade de viver normalmente após o acidente de trânsito.

Hoje, pouco mais de um mês depois do acidente, Marciana mostra-se ainda mais forte e cheia de vontade. Prova de toda sua simpatia e admiração foi o Zumba Beneficente, efetuado pela Lú Studio Fitness no dia 14 de maio, no Clube 1º de Maio. Isso porque alunas, colegas e amigas se reuniram para dançar e gritar a boa recuperação de Marciana, que também compareceu ao evento. “A história começou quando a Ângela me procurou dizendo que queria me ajudar e pensou numa aula de Zumba. No começo, quando vi o convite, nem acreditei. Não imaginava uma ação assim pra mim. Quando cheguei no Clube na noite do evento, comecei a passar pelas pessoas e chorei muito. Chorei de emoção, chorei por não imaginar que tanta gente se importasse comigo. Foi muito bom, meu coração palpitava de alegria. Minha filha leu uma mensagem e não me contive, chorei.O local também foi especial, pois foi ali que o Zumba começou em Pomerode Fundos, onde corremos atrás de uma atividade diferenciada para a comunidade”, revela. O apoio contou ainda com uma rifa.

Marciana sofreu um acidente de trânsito no início do mês de abril e teve que amputar a perna esquerda por conta disso. Depois de 26 dias internada, entre exames, cirurgia, tratamento e UTI, ela comprovou que para vencer é preciso ter força de vontade. “Hoje eu estou bem. Cada dia é um novo dia e alguns são bons, outros nem tanto. Mas receber mensagens e visitas, apoio de amigos e familiares é o que me dá ainda mais força para seguir em frente, para viver. Minha família, meu marido em especial, são tudo. Agora estou ansiosa para poder colocar o pé no chão e ficar em pé. Depois disso, posso pensar numa prótese e, com ainda mais vontade, espero conquistar isso até o fim do ano”, conta.

Sobre o dia do acidente, Marciana conta que lembra do antes e depois. “O exato momento da colisão eu não lembro, mas me recordo de estar na via e ver a Sprinter invadindo a minha pista. Por causa disso, até fui mais para a direita, pensando que ela teria espaço para voltar à sua pista. Depois acordei no chão, com muita dor na perna. Nesse momento eu gritei para pedir ajuda, pois não havia ninguém por perto. Então uma moradora e também um ciclista chamaram por socorro. Quando os bombeiros e o Samu chegaram, tiraram meu capacete e então eu olhei para minha perna. Foi aí que comecei a questioná-los se ela ainda teria salvação. Ainda deitada e sendo socorrido, sempre consciente e lúcida, milhares de coisas passavam pela minha mente. Eu pensava na minha vida sem uma perna, pensava em quem cuidaria do meu pai no hospital, já que estava indo fazer isso”, conta.

A amputação foi inevitável e, com ela, a transferência para o Hospital Santa Catarina. “Quando cheguei ao Hospital de Pomerode também questionei o médico sobre a amputação, mas isso ainda era incerto. Foi ouvindo uma ligação, quando diziam que seriam necessárias bolsas de sangue porque haveria amputação, eu sabia o que aconteceria. Então perguntei à enfermeira e ela me respondeu ‘primeiro vamos salvar a tua vida, depois vamos ver a tua perna’. Depois disso eu apaguei”, relata.

Marciana acordou no Hospital em Blumenau, na UTI, no domingo. “Estava intubada por conta do coma induzido. Quando acordei já sabia que haviam amputado minha perna, pouco abaixo do joelho, mas me assustei ao me deparar com aquelas parabólicas nas minhas coxas. Foi então que me explicaram que também havia quebrado o fêmur nas duas pernas. Além disso, também havia quebrado o dedo e estava com platina do braço esquerdo”, explica.

A saída do hospital se deu 26 dias depois. “Posso dizer que esses dias passaram rápido até. Enquanto fazia o tratamento, também fiz amigos. E, acima de tudo, minha vontade de voltar para casa, voltar à minha vida normal, fazer pilates, zumba, ginástica me motivavam sempre a superar meus limites. Sei que tudo tem seu tempo, mas também tenho consciência de que a recuperação depende do paciente que se dedica e deseja melhorar. Como sempre fui uma pessoa muito ativa, que praticava exercícios físicos, isso também ajudou na recuperação. E, além disso, também me dava metas e objetivos, onde me esforçava para alcança-los, sendo eles levantar a perna esquerda, depois a direita. Tive alta no dia 30 de abril e confesso que depender dos outros não é fácil, ainda mais para mim que sempre fui ativa. Mas voltar para casa é emocionante demais”, frisa.

E, vencendo dia a dia, Marciana não contava com mais uma triste notícia: seu pai falecera. “Este foi o pior dia desde o acidente. Meu pai faleceu no dia 18 de abril e eu não pude estar presente no enterro. No dia do acidente eu estava indo a Blumenau para cuidar dele, pois meu marido estava lá durante a noite. Foi ele quem contou ao meu pai que eu havia sofrido um acidente e não iria cuidar dele, então lágrimas caíram de seu rosto. E quando me contaram que ele havia falecido eu chorei. Chorei ainda mais quando me disseram que era muito arriscado eu sair do hospital para ir ao velório, por riscos de infecção. Eu falei com meu pai pelo telefone depois do acidente, disse que não poderia vê-lo, mas que o amava muito.

Jamais imaginaria que essa seria a nossa despedida. Perder meu pai, com certeza, é uma dor muito maior do que a senti ao perder a perna. Na missa de sétimo dia, eu pude comparecer, e ao entrar na igreja chorei novamente, pois era uma mistura de sentimentos. Não pude me despedir dele, não dei meu último adeus”, conta Marciana com lágrimas nos olhos.

Mas se a vida nos prega peças, ela também nos presenteia. “Eu acredito que Deus põe pessoas em nosso caminho para nos ajudar. No dia em que meu pai faleceu, eu pedi para meu marido ir com meus filhos ao enterro para me representar. Foi então que minha amiga Elisa ficou comigo, mantendo minha mente ocupada e fazendo muitas surpresas. Ela trouxe um amigo que havia amputado a perna há 20 anos e hoje possui prótese para conversar comigo. Mas olhar no relógio foi inevitável, às 15h15min eu comecei a chorar, pois sabia que meu pai havia sido enterrado às 15h. Elisa sentou ao meu lado e chorou comigo, mas sempre me deu forças e mais uma surpresa: trouxe minha amiga Cleusa para conversar comigo”, relata.

Hoje, em casa, junto ao marido, filhos, familiares e amigos, Marciana acredita que nada é por acaso. “Deus não fez tudo acontecer ao mesmo tempo por acaso. Ouvi uma frase que diz ‘Deus coloca seus melhores soldados para lutar uma guerra’. E acredito nele, acredito em mim. Uma das melhores coisas que eu ouço é ‘você é a mesma de antes, nada mudou, não falta nada’. É assim que me sinto. Sou a mesma Marciana de sempre. Sou persistente e só tenho a agradecer a todos que me apoiaram. A Lú e a Ângela pela iniciativa, aos meus amigos que vem me visitar ou me mandam mensagens. A família que está ao meu lado todos os dias. E até àqueles que não conheço, mas me puseram em suas orações ou me ajudam de outra forma.

E se Deus fez tudo isso acontecer, da forma como foi, talvez fosse para mostrar que a união faz a força”, finaliza sorrindo.

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