Dia Mundial do Diabetes: doença aflige mais de 2 mil pessoas em Pomerode
Conheça a história de quem convive com a doença e saiba mais sobre o diabetes
Foto: Envato Elements
A data de 14 de novembro, é lembrada internacionalmente como o Dia Mundial de Combate a Diabetes. A Diabetes mellitus (DM) é uma doença endócrina caracterizada pela elevação dos níveis de glicose no sangue.
O Médico Endocrinologista (CRM 7031-SC) e Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Santa Catarina no Biênio 2021-2022, Fulvio Clemo Santos Tomaselli, explica que a doença pode ser dividida em dois tipos:
A DM tipo 1 ocorre principalmente em crianças, adolescentes e adultos jovens, e caracteriza-se por lesão autoimune das células beta do pâncreas e consequente ausência de produção do hormônio insulina.
Já a DM tipo 2 acontece principalmente em adultos acima de 35 anos. Esta variação caracteriza-se por quadros de resistência a ação do hormônio insulina. Muitas vezes está associada a obesidade, hipertensão e distúrbios do colesterol e triglicerídeos.
De acordo com dados da Secretaria de Saúde de Pomerode, baseados na condição autorreferida dos moradores em seu cadastro, 2.474 pessoas possuem Diabetes, dos tipos 1 e 2. Destas, 1.230 são homens e 1.509 são mulheres.
Ainda segundo os dados da Secretaria, entre os homens as faixas etárias com maior incidência da doença são entre os 65 a 69 anos (172) e 70 a 74 anos (também 172). Já entre as mulheres, a maior incidência ocorre em quem tem mais de 80 anos, com 262 mulheres identificadas com a doença, na cidade.
Uma destas mulheres é Karime Hirabara, que possui o Diabetes tipo 1, ou insulinodependente. Ela conta que descobriu a doença ainda na adolescência, aos 15 anos, quando passou a ter sintomas de muita diurese noturna, ou seja, acabava de sair do banheiro e tinha que voltar, visão embaçada e muita sede.
“Quando recebi o diagnóstico tive medo, fiquei assustada, medo de não saber lidar com a doença, vergonha de passar mal e ter que pedir socorro. Passa muita coisa na cabeça”, revela Karime.
A moradora de Pomerode também comenta sobre o que mudou em sua vida, desde a descoberta, há 20 anos, afirmando que houve muitos altos e baixos neste período.
“Qualquer pessoa, sendo diabética ou não, tem que ter um padrão alimentar adequado, fazer exercício físico e se cuidar. Uma pessoa com diabetes tem que ter esse cuidado redobrado, pois qualquer alimento causa alteração na glicemia (níveis de açúcar no sangue). O grande erro das pessoas é achar que o paciente diabético não pode comer doce. O paciente diabético pode comer de tudo, porém com cautela e fazer controle correto dos níveis de glicemia. Na verdade, até hoje, não existe processo fácil. O emocional é o mais difícil”, revela.
Karime comenta, ainda, sobre a vinda para Santa Catarina em 2013 e afirma que, mesmo morando por cinco anos sozinha, a família nunca deixou de lhe apoiar e ajudar, quando necessário.
“Preciso agradecer aos meus pais, Adélia Maria Hirabara e Eurico Minoru Hirabara que desde sempre cuidaram de mim e fizeram de tudo pelo cuidado da minha saúde. Sou adotiva e nunca faltou nada para mim e meu irmão gêmeo, Fabiano Hirabara. Meus pais moravam no interior de São Paulo, e sempre se preocuparam com minha saúde, mesmo quando estávamos longe. Em 2017 eles se mudaram para Santa Catarina, pois eu ainda estava morando sozinha e eles também moravam sozinhos por lá. Meu irmão também sempre me liga e me incentiva a cuidar da minha saúde”, enaltece.
Quem também é fundamental em toda a sua rotina de cuidados e de convivência com a doença é o noivo, Matheus Volkmann, a quem Karime também agradece.
“Desde o início do nosso namoro ele sempre soube da minha doença e sempre pediu para que eu explicasse como ele poderia me ajudar quando eu estivesse com hipoglicemia (quando a glicose do sangue está baixa), pois dos sintomas da diabetes, a hipoglicemia é o pior, pois se você não socorrer rápido, perde a consciência e pode ter danos maiores. Por muitas vezes a noite, na madrugada, eu tive hipoglicemia e acordava meu noivo pra me socorrer, então ele preparava um copo de água com açúcar e assim esperava eu melhorar para voltarmos a dormir. Hoje, já são três anos que estamos juntos, e ele sempre cuidou de mim e se preocupou com minha saúde. A única coisa que posse dizer é que amo muito minha família e meu noivo por sempre cuidarem de mim”, destaca.
Os sintomas do Diabetes
O Médico Endocrinologista, Fulvio Clemo Santos Tomaselli, afirma que os sintomas mais comuns são aumento do volume urinário, sede excessiva, aumento de apetite, turvação visual, cansaço, fadiga, propensão a infecções e dificuldade de cicatrização.
“Precisamos lembrar que muitas pessoas podem ser assintomáticas. Daí a importância de realizar consultas regulares com seu médico e exames periódicos. O diagnóstico pode ser feito através de um exame de glicemia de jejum, de uma curva glicêmica ou pela dosagem da hemoglobina glicosilada”, explica Tomaselli.
Tratamento
O Endocrinologista também esclarece como é o tratamento de cada tipo da doença. A DM tipo 1 necessita ser tratada com insulina, enquanto a DM 2 embora possa necessitar também de insulina para seu tratamento, pode ser tratada com outros medicamentos disponíveis (orais e injetáveis). “Ambos os tipos de Diabetes têm na base do seu tratamento o estilo de vida: equilíbrio alimentar e atividade física”, complementa.
Caso o tratamento não seja feito da forma correta, o paciente que possui a doença poderá ter complicações, conforme alerta o especialista.
“As complicações agudas da doença são a cetoacidose diabética e o coma hiperosmolar. São situações graves e que representam risco de morte. As complicações crônicas são: retinopatia (descolamento de retina, cegueira), amputações, infarto agudo do miocárdio, AVC, nefropatia (doença renal do diabetes), neuropatia”.
Existem fatores de pré-disposição para Diabetes?
O Dr. Fulvio Tomaselli também destaca que alguns fatores podem ser considerados “de risco”, para uma pessoa ter mais probabilidade de desenvolver a Diabetes. Estes fatores são: história familiar em parentes de primeiro grau, presença de outras doenças autoimunes, obesidade, idade – acima de 35 anos, presença de hipertensão arterial, presença de dislipidemias, sedentarismo e consumo excessivo de álcool.
A principal forma de prevenir a doença, por outro lado, é adotar um estilo de vida saudável. “É preciso ter uma alimentação equilibrada, evitando excesso de gorduras e açúcares, além de não consumir produtos industrializados. Outros cuidados podem ser não fumar, praticar atividade física regular – mínimo de 150 minutos/semana, divididos em pelo menos 5 dias por semana (30 minutos/dia – além de técnicas para evitar estresse e ter um sono adequado”, enumera.
Diabetes gestacional
Para as gestantes, também é necessária atenção especial, pois elas podem desenvolver o que os médicos chamam de Diabetes gestacional, ou seja, a elevação da glicemia durante o período de gravidez.
“Ela decorre de um estado de resistência ao hormônio insulina pela produção de outros hormônios nessa fase da vida, em especial os hormônios placentários. A diabetes gestacional deve ser tratada com dieta e em alguns casos o uso de insulina se faz necessário. O adequado controle dos níveis de glicose durante a gravidez é fundamental para o adequado desenvolvimento fetal”, afirma o Dr. Tomaselli.
Por fim, o Médico Endocrinologista reforça a importância do acompanhamento médico constante, para evitar não só a Diabetes, como outras doenças e complicações. “O diagnóstico do diabetes é relativamente simples. É importante realizar as consultas e exames periódicos como seu médico, pois a patologia muitas vezes é assintomática. Quando mais precoce for realizado o diagnóstico, mais facilmente se conseguirá obter o controle adequado dos níveis de glicose. O controle glicêmico adequado reduz o risco das complicações crônicas da doença. Além disso, a participação do paciente é fundamental para que o médico possa auxiliar no tratamento dessa doença”, finaliza.