Cuidado, mas também respeito, para com as cobras
É preciso sempre procurar auxílio especializado quando é necessária a captura da cobra. Matar o animal não deve ser uma opção. Em Pomerode, recentemente, um morador encontrou o animal em sua residência e relata qual decisão tomou
Com o calor intenso, aumenta o número de ocorrências com répteis que adentram em áreas residenciais, principalmente, as cobras. Um destes casos foi na casa de Mark Behling, que se deparou com uma cobra Coral Verdadeira em sua piscina. O caso ocorreu no dia 04 de fevereiro.
“Eu fui ao banheiro no segundo andar da residência e olhei pra fora da janela, em direção à piscina, vi algo estranho boiando junto à borda, parecia ser um cadarço colorido. Fiquei intrigado, pois um dia antes teve a festa de dois anos do meu filho e várias crianças brincaram na piscina. Fui averiguar e constatei tratar-se de uma cobra”, relata o morador.
Behling conta que logo identificou o animal como sendo uma Coral Verdadeira e revela que sua primeira reação foi perplexidade. “Fiquei preocupado pois tenho dois bebês em casa, um de dois anos e um de cinco meses, e não sei qual seria a reação deles ao verem a cobra, provavelmente, pegariam ela na mão para brincar. Mas também fiquei admirado com a beleza do animal”, admite.
Ele, então, retirou o animal da água utilizando uma peneira de limpar as folhas da piscina e depositou a cobra em um recipiente de plástico. Depois, o levou aos bombeiros. “Lá me falaram que não podem mais acolher estes tipos de animais, mas conversando com eles, eles acabaram aceitando pegar a cobra para posterior soltura em uma área segura”, conta Behling.
Um dos motivos que favorece a aparição de animais silvestres próximos ou em sua residência é ela ser localizada às margens de um ribeirão, com mata ciliar bem preservada. “Recebemos visitas frequentes de animais, por aqui passam esquilos, bugios, lagartos, capivaras, cobras, e várias espécies de pássaros. Isso, para nós, é de grande satisfação e demonstra que por aqui o ecossistema continua rico e saudável. Peço ainda para que, em caso de um incidente como este, não mate o animal, ele não merece pena de morte”, declara.
O conselho de não matar o animal é compartilhado pelo comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Pomerode, Carlos Hein, que afirma que o réptil só oferece perigo quando se sente ameaçado. “As cobras atacam ou dão bote para duas coisas: se defender, intimidar o que, para ela, é um predador; ou para caçar, conseguir alimento. Então, se deparando com uma cobra, não realize movimentos bruscos, afaste-se do local onde a cobra está”, instrui o bombeiro voluntário.
Hein afirma que os bombeiros fazem a captura de cobras em situações onde elas estejam oferecendo risco iminente, ou potencialmente alto, como locais de grande aglomeração de pessoas, com crianças ou onde a cobra está sendo acuada ou atiçada por cachorros. “Nestes casos, o risco de um acidente é aumentado pelos circunstâncias. Crianças podem não ter noção do perigo que representa uma cobra, locais de aglomeração de pessoas deixam a cobra muito estressada o que irá provocar reação de defesa, que é dar o bote”, explica.
As cobras que são recolhidas pelo Corpo de Bombeiros são devolvidas à natureza em locais afastados dos centro urbanos, em Pomerode, e a corporação procura fazer um rodízio destes locais, para que possa ser mantido um equilíbrio no ecossistema. O Zoo Pomerode, inclusive, não é um local de destinação destes animais, pois só recebe animais silvestres encaminhados pela Polícia Ambiental, para tratamento e posterior devolução à natureza.
“Vale ressaltar que é o ser humano que ou invade o habitat das cobras ou as convida para o seu habitat, com acúmulo de materiais pelo pátio, estocados nas construções, locais estes que oferecem abrigo para as cobras; acúmulo de lixo, que vai causar aumento de roedores naquela área e, assim, aumento de oferta de alimento para as cobras; entre outras situações”, destaca o bombeiro voluntário.
O comandante afirma, ainda, que a captura de cobras só acontece, caso haja disponibilidade de efetivo. “Ressaltamos que o serviço de captura de cobras está condicionado à viabilidade de recursos humanos, não podemos deixar desguarnecida uma ambulância para capturar um cobra que está no jardim de uma casa onde, do outro lado do muro, existe uma região de mata”.
O biólogo Claudio Maass atesta a afirmação do bombeiro e acrescenta que existe, também, os motivos biológicos que aumentam a chance de encontrar uma cobra em áreas residenciais. “Os répteis, como um todo, são pecilotérmicos, ou seja, adaptam a sua temperatura de acordo com a temperatura do ambiente. A temperatura ideal de atividades das cobras é entre 28° e 33°C, quando elas estão mais ativas e no verão, também, é o seu período de reprodução. Portanto, há mais oportunidades de encontro, porque as cobras estão mais ativas”, esclarece.
Maass também explica que, em Pomerode, são três as espécies que aparecem com mais frequência e que oferecem mais risco a quem “esbarra” com elas: Jararaca, Jararacuçu e Coral Verdadeira. “Lembrando que o ideal é não tentar capturar a cobra por conta própria e nem matá-la, pois este último também configura um crime ambiental”, ressalta.
Por fim, o comandante dos Bombeiros Voluntários destaca que, em casos de acidentes como picadas, procurar socorro médico é fundamental.
“Em caso de acidente com cobras, a orientação é acionar um serviço de emergência ou procurar avaliação médica, tentar identificar características de coloração, tamanho para facilitar a identificação da sua espécie e, consequentemente, do tipo de soro antiofídico a ser utilizado”, finaliza.