Brasileiro tem gordura demais e saúde de menos
Uma das metas do programa Brasil Saudável, do Ministério da Saúde, é promover uma alimentação balanceada e o combate à obesidade.
Estar com excesso de peso pode trazer problemas para a saúde. Sobrepeso e obesidade representam um forte fator de risco para distúrbios respiratórios, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. O Brasil tem motivo de sobra para se preocupar com o assunto. A última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre os anos de 2002 e 2003, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério da Saúde, revelou que 40,6% da população adulta estão acima do peso que deveriam e 11% com obesidade. No total, há cerca de 38,6 milhões de pessoas acima do peso recomendado e 10,5 milhões de obesos no País. Para combater problemas como a obesidade e o sobrepeso e incentivar a população a adotar hábitos saudáveis, o Ministério da Saúde desenvolve projeto Brasil Saudável. Doenças como a obesidade se associam a fatores como a má alimentação, a falta de atividade física e o tabagismo e são responsáveis por 33 milhões de mortes prematuras no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, esse percentual também assusta: 60% das mortes são causadas por infartos, diabetes e câncer. Algumas dessas doenças têm na obesidade sua origem. A obesidade acontece quando a quantidade de calorias ingerida é maior do que o organismo precisa para realizar suas atividades diárias. Essas calorias são armazenadas na forma de gordura. O Brasil Saudável possui como um dos focos alertar os brasileiros sobre os riscos de carregar mais gordura do que o organismo necessita. Segundo o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, o Brasil Saudável significa um marco na prevenção e controle de doenças relacionadas à obesidade. “O Ministério da Saúde vai traçar políticas regulatórias para mudar comportamentos e promover hábitos saudáveis na população brasileira, como o estímulo à atividade física e a alimentação saudável”, afirma. Adotar hábitos saudáveis quer dizer tomar algumas atitudes que gerem benefícios à saúde. Por exemplo: adotar uma alimentação rica em frutas, legumes e verduras. Esses alimentos constituem fontes ricas em vitaminas, fibras e sais minerais e são considerados protetores para a saúde. Evitam o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis. Em contrapartida, os profissionais de saúde recomendam a redução do consumo de alimentos ricos em açúcar, sal e gordura, com alta densidade energética, como salsicha, mortadela, frituras, doces e carnes vermelhas. Eles recomendam que as pessoas prefiram carnes brancas, como peixe e frango. Outro hábito importante para evitar a obesidade e outras doenças é a prática constante de atividades físicas. Os educadores físicos recomendam 30 minutos diários de exercícios para combater esse risco. Obesidade: um fenômeno crescente no País Na luta contra a obesidade o Brasil possui um aliado de peso: a OMS. Desde 2004, a organização trabalha com a Estratégia Global em Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde. O documento, aprovado na Assembléia Mundial de Saúde, em março de 2004, endossa a participação dos 192 países membros, como o Brasil, com ações de caráter regulatório, fiscal e legislativo para permitir que as pessoas decidam por escolhas saudáveis em seu cotidiano. Segundo a diretora do Departamento de Nutrição da OMS, Denise Coitinho, o País convive com taxas crescentes no número de obesos. Alerta que esse é um problema emergente que deve ser tratado pensando no futuro e no ônus ao sistema público de saúde que vai tratar de uma possível população de hipertensos, diabéticos e cardíacos. Essa previsão é confirmada por estatísticas apresentadas pelo professor titular do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Monteiro. Segundo esses números, entre a população masculina, a trajetória da obesidade é explosiva em todo País, com aumento de 50% a cada 15 anos. “A idéia do Brasil Saudável é criar uma política de saúde permanente contra doenças não transmissíveis como a obesidade. Temos que trabalhar com as causas e não apenas com os efeitos”, afirma o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa. Para o secretário, medidas assim reduziriam os gastos no SUS com tratamentos. Estima-se que os impactos das doenças não transmissíveis no SUS custem em torno de R$ 11 bilhões por ano. “É um ônus grande para doenças que podem ser evitadas com mudanças de hábitos”, lamenta Jarbas. Necessidade urgente de mudança de hábitos alimentares Vivendo em um País mais urbanizado, o brasileiro trouxe para a mesa nos últimos anos mais itens industrializados e processados. Ao mesmo tempo, o consumo de frutas, legumes e hortaliças permaneceu muito baixo e inferior às recomendações da OMS, que é de no mínimo 400 gramas ou cinco porções diárias destes alimentos. As mudanças nos hábitos alimentares não se limitam à população adulta e vêm passando dos pais para os filhos. “Hoje, existe um fast food em cada esquina e a facilidade de acesso a alimentos calóricos e gordurosos é bem maior do que há 20 anos atrás”, afirma a responsável pela equipe da alimentação saudável do Ministério da Saúde, Patrícia Gentil. Para a Organização Mundial da Saúde, a equação vídeo game e fast food resultou em 20 milhões de crianças abaixo de cinco anos obesas ? 6,6% do total mundial. A OMS teme que essas crianças vivam menos que os pais ou morram ainda jovens. “A obesidade infantil é mais preocupante que a adulta, pelo futuro que essa criança carrega”, afirma Denise Coitinho, se referindo a um futuro adulto hipertenso, diabético ou cardíaco. À procura de solução para isso, a organização realizou em junho, na cidade japonesa de Kobe, uma reunião com especialistas no assunto e a comunidade científica para firmar recomendações de alimentação saudável e atividades físicas no ambiente escolar. No Brasil, essas atividades já foram colocadas em prática e serão estimuladas pelo Brasil Saudável. “Vamos fazer ações educativas nas escolas, credenciar cantinas que trabalhem pela saúde das crianças e fazer campanhas de alimentação saudável”, assinala Jarbas Barbosa. Para o secretário, a grande preocupação é que essas doenças levam anos para produzir o efeito negativo e crianças obesas crescem carregando problemas de saúde que poderiam ter sido evitados com melhores hábitos alimentares. Primeiro Mundo também enfrenta problema Na trilha das recomendações da OMS, a União Européia já começou a aplicar as ações recomendadas para barrar o crescimento assustador do número de obesos no país. Na Inglaterra, o número de lanchonetes fast food dobrou nos últimos 10 anos e os obesos já representam 23% da população, quantidade três vezes maior do que há 20 anos. Na Itália, 10% da população deixaram de consumir frutas regularmente. Para a diretora do departamento de Nutrição da OMS, Denise Coitinho, a importância dessa política é prevenir o impacto que obesidade, tabagismo, diabetes e doenças do coração podem causar a longo prazo. “Os governos precisam conter o ritmo de aumento dessas doenças e agir com políticas severas de controle”, adverte. Um levantamento da Associação Internacional para Estudos da Obesidade mostra que nos Estados Unidos, campeão global da doença, os custos para o sistema público de saúde chegam a US$ 44,6 bilhões, valor em torno de três vezes maior que o orçamento destinado à pasta de saúde pelo governo brasileiro. Obesidade pode ter relação com desnutrição Crianças desnutridas, adultos obesos. Para os especialistas, a afirmação ganhou força no Brasil depois do processo de industrialização e do aumento no consumo de alimentos processados, ricos em gordura, sal e açúcar, como biscoitos, embutidos e refrigerantes. Esse aumento não quer dizer que o Brasil resolveu o problema da fome. Em um mesmo lar, podem conviver pessoas obesas e desnutridas. A diminuição da desnutrição na idade adulta e o aumento do número de obesos é uma tendência no país desde meados da década de 80 e caracteriza o que os especialistas chamam de transição nutricional. “Esse fenômeno é conseqüência do aumento da expectativa de vida, associado às mudanças nos padrões tecnológicos, culturais e sociais e no estilo de vida”, afirma a diretora do Departamento de Nutrição da OMS, Denise Coitinho. Segundo especialistas, crianças desnutridas têm mais chances de virarem adultos obesos, em função dos mecanismos de adaptação para sobreviver à fome que o organismo desenvolve. Sabe-se que a desnutrição altera o metabolismo do corpo, originando distúrbios que, a longo prazo, contribuem para a obesidade. Para tratar do problema, o Ministério da Saúde disponibiliza uma série de publicações voltadas para profissionais de saúde sobre abordagem da alimentação saudável em todas as fases da vida. Entre elas, destacam-se o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos e o Guia Alimentar para População Brasileira Maior de 2 anos, que está em fase de consolidação.