Brasil atinge meta internacional de controle da hanseníase
Desafio agora é diminuir a desigualdade regional de incidência da doença
Brasil acima da meta de controle da hanseníase. Esse é o objetivo do Ministério da Saúde para os próximos cinco anos, já que até dezembro de 2005 será cumprido o compromisso firmado com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de um caso da doença para cada 10 mil pessoas. Como é uma média nacional, o governo investirá nessa nova realidade para todos os municípios brasileiros, até 2010.
A hanseníase afeta hoje cerca de 30 mil brasileiros, a maioria vivendo em estados do Norte e do Centro Oeste, onde a prevalência ultrapassa o número de cinco casos a cada dez mil habitantes. O quadro só não é mais grave porque desde o início de 2004 a doença foi eleita prioridade pelas autoridades de Saúde no país. “O problema vinha sendo tratado de forma lenta e centralizada. Por isso, o governo fazia menos do que podia”, afirma o Secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa.
De acordo com o ele, informação, descentralização das ações de diagnóstico, tratamento e prevenção de incapacidades físicas são fundamentais para eliminar a doença. “Divulgar os sintomas e mostrar que a Hanseníase tem cura é fundamental”, explica Jarbas Barbosa. “Quanto mais rápida for a identificação, mais fácil é o tratamento”, acrescenta. Além disso, desde 2004 os profissionais do programa Saúde da Família e agentes comunitários de saúde passam por um processo de capacitação, voltado para as ações de controle da doença.
Outra decisão do ministério foi de atualizar constantemente os dados nacionais e regionais sobre a doença. A ação facilitou e aprimorou o trabalho das equipes de saúde. “Antes o governo levava meses, até anos, para receber as informações básicas, necessárias para o controle da hanseníase”, protesta o secretário Jarbas Barbosa. Desde do ano passado, o ministério disponibilizou um profissional responsável por esse controle em cada estado e os dados passaram a serem atualizados de forma constante. “Já temos todos os números de 2004”, comemora o secretário.
Com as informações disponíveis, o Ministério publica desde 2004 as Cartas de Eliminação. Enviadas para secretarias municipais e estaduais de Saúde, elas fornecem as autoridades dados e avaliações sobre a eliminação da doença.
A doença
A hanseníase é uma doença infecciosa, de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, conhecida como Bacilo de Hansen. A doença ataca os nervos das extremidades do corpo produzindo lesões na pele, principalmente em braços e pernas. A hanseníase tem um passado triste, de discriminação e isolamento dos doentes, que hoje já não existe e nem é necessário, pois pode ser tratada e curada.
A hanseníase é transmitida de uma pessoa doente que não esteja em tratamento para outra sadia, principalmente por meio da respiração durante o convívio diário. Por isso, é importante a realização do exame em familiares das vítimas da doença.
A maioria da população adulta é resistente à hanseníase, mas as crianças são mais susceptíveis, geralmente adquirindo-a quando há um paciente contaminado na família. O período de incubação da doença varia de dois a sete anos. Estão entre os fatores predisponentes o baixo nível sócio-econômico e a superpopulação doméstica. Devido a isso, a doença ainda tem grande incidência nos países subdesenvolvidos.
Os principais sintomas da doença são manchas brancas ou avermelhadas, dor nos nervos dos braços, das mãos, das pernas ou dos pés e partes do corpo com formigamento ou dormência. Geralmente, a vítima da hanseníase também apresenta caroços no corpo, ausência de dor em casos de queimaduras ou cortes nos braços, nas mãos, nas pernas e nos pés.
Segundo o secretário, o aparecimento de crianças com hanseníase é um sinal de alerta da existência de outros infectados na família. Como ainda existe muito preconceito e desinformação em relação à doença, as pessoas não procuram atendimento quando os primeiros sintomas aparecem. Isso prejudica familiares, vizinhos e amigos que convivem com o doente e correm o risco de contrair hanseníase. De acordo com Jarbas Barbosa, as crianças se contaminam principalmente dentro de casa. “Provavelmente porque algum adulto não foi diagnosticado precocemente”, salienta.
Hoje, o Brasil tem cerca de quatro mil crianças com hanseníase. O estado do Maranhão, por exemplo, produz sozinho 600 novos casos por ano. Por isso, o Ministério da Saúde começou um plano de mobilização, em conjunto com as secretarias municipais e estaduais de Saúde, para tratar precocemente à doença e evitar novos casos em crianças.
Além de atingir a meta internacional estipulada pela OMS, o desafio do Brasil é diminuir a desigualdade regional de incidência da doença. Os estados com maior número de casos a cada dez mil habitantes são Mato Grosso (7,85), Pará (6,7), Roraima (6,6), Rondônia (5,5) e Maranhão (5,4). Já os estados de Tocantins, Goiás, Ceará Pernambuco, Espírito Santo, Amapá, e Rio Grande do Norte superam a marca de dois doentes a cada dez mil habitantes.
“Não podemos pensar que nosso trabalho se encerra quanto atingirmos a meta de prevalência de um caso para cada 10 mil habitantes”, admite Jarbas Barbosa. “Num país como o Brasil, o trabalho precisa persistir para que em cada estado haja estratégias para que se atinja, de maneira homogênea, uma maior redução da prevalência”, alerta.
SUS oferece tratamento da doença
Apesar de não ser considerada uma doença erradicável, a Hanseníase tem cura. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu protocolos de tratamento nos quais a duração varia de acordo com a forma da doença. São seis meses de tratamento para os pacientes com poucas lesões e 12 meses para as formas mais graves, com mais de cinco lesões. Ao iniciar o uso das medicações a pessoa deixa de ser automaticamente um transmissor da hanseníase.
Em casos mais graves, em que já existem seqüelas físicas no paciente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece cirurgias plásticas gratuitas de reparação. O SUS também fornece gratuitamente a medicação para os pacientes. “Qualquer pessoa que tenha uma mancha esbranquiçada ou avermelhada com perda de sensibilidade, deve procurar imediatamente um posto de saúde para realizar o diagnóstico da hanseníase”, diz Jarbas Barbosa. “Trata-se de uma doença que tem cura e quando detectada precocemente, não deixa seqüelas”, completa.