ARTIGO
Quem só nos vê passando pela rua, apressados, distraídos, falando ao celular, entre as vitrines do shopping, os corredores da empresa, a garagem do prédio, não nos reconhece. Somos mais um, parte da multidão, ingrediente da massa.
Quem só nos vê passando pela rua, apressados, distraídos, falando ao celular, entre as vitrines do shopping, os corredores da empresa, a garagem do prédio, não nos reconhece. Somos mais um, parte da multidão, ingrediente da massa.
Na fila do banco, no trânsito ou na sala de embarque do aeroporto, você só faz parte do cenário, um a mais e, portanto, não é você, é só alguém, ou ninguém.
Para os outros você é personagem daquele cenário: trabalho, trânsito, rua, restaurante…
Mas nada melhor do que as estatísticas para nos transformar em números. Segundo especialistas em pesquisas, entrevistando 2.500 a 3.000 pessoas, é possível saber o que o Brasil pensa sobre qualquer coisa. Basta a média e pronto.
São amostragens, quantitativas, estatísticas e você se transforma em mais um.
Aprendemos a lidar com a vida de maneira superficial porque não costumamos nos enxergar, vemos pelo olhar do outro. Costumamos nos categorizar de acordo com o ambiente, os olhares, os créditos, os títulos, os códigos, acreditando que realmente somos aquilo.
É por isso que, muitas vezes, o grande líder não sabe lidar com a família e foge do filho, ou o cara que é reconhecido por todos pelo que faz, admirado, aplaudido, invejado, não sabe lidar consigo mesmo. Por mais que cada ambiente exija de nós determinadas posturas, de fato somos o que somos, afinal de contas, sou eu quem devo influenciar o ambiente e não ele a mim.
É bom para os negócios criar categorias e nos colocar nelas. Sem que percebamos somos levados pela maré a pensarmos, sentirmos e agirmos todos da mesma maneira. Muitos perdem, poucos ganham quando deixamos de ser o gente e viramos massa.
Quem é você além do que os outros enxergam? É capaz de se ver sem usar as lentes alheias?
Além do profissional, do motorista, do cara que dá bom dia na portaria, o que tem por aí?
Existe um espelho que fica do lado de dentro.
Nele você é chamado a se enxergar e ver o que os outros não veem.
Olhando para ele corremos riscos. Podemos nos machucar, surpreender ou magoar os outros. Poderá ser preciso romper laços, cessar padrões de comportamento e mudar de atitude, abandonar a máscara, mas isso só quando você se vê.
Não se ocupe em ser aceito, se aceite.
Muito mais do que o profissional, pai, mãe, filho, irmão, amigo, vizinho, colega, você é um ser único e aceitar isso pode ser assustador.
É só questão de tempo.
Tente se enxergar, aceitar seu silêncio, ser seu amigo, encare seus medos, traumas, limitações, ouça com calma, sem culpa o que eles têm a lhe dizer.
Ainda que seja por alguns segundos, tente se enxergar.
Aceitando sua humanidade aceitará a dos outros e, quando deixar a toga de juiz da humanidade não se sentirá mais julgado e, portanto, livre.
Livre-se da sobrecarga, você não precisa dela.
O espelho está aí. Pelo menos por alguns segundos deixe de olhar para os outros. Esqueça a culpa e as cobranças e olhe para dentro. Pode demorar um pouco mas logo verá o espelho: Será hora de se aquietar, silenciar-se e, finalmente, reconhecer-se – Flávio Siqueira