Amor em dose tripla
Entrega, amor, doação… Sentimentos que podem ser resumidos em apenas uma palavra. Adoção.
Entrega, amor, doação… Sentimentos que podem ser resumidos em apenas uma palavra. Adoção. Fazer a diferença na vida de um pequeno ser humano é, com certeza, a chave da felicidade, que está implícita neste ato tão nobre, que cada vez mais é difundido pelo mundo e compreendido pelas pessoas.
Num pequeno trecho do livro Você não está só, de George Dolan, o amor que nasce entre a família e o adotado fica bem caracterizado, na fala de crianças que conversam sobre adoção, após terem visto numa fotografia, um menino com os cabelos de cor diferente. Uma delas diz que a criança diferente pode ter sido adotada e, quando questionada por outra sobre o que é isso, responde: É você crescer no coração da mãe, ao invés de crescer na barriga.
Neste dia 25 de maio é comemorado o dia da adoção, criado em 1996 no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção. Juridicamente, ela é uma realidade social que se concretiza através de ato, que cria, entre duas pessoas, vínculo de parentesco semelhante à paternidade e filiação. Neste sentido, muitos casais, que não podem ter filhos biologicamente, estão recorrendo à adoção, como forma de adentrar neste mundo maravilhoso que é ter um descendente.
O caso de Marcos e Solange D. Willvock é um pouco diferente, mas não menos especial. Eles se conheceram durante a Festa Pomerana de 1996, quando começaram a namorar. Pouco mais de um ano depois, já subiam ao altar, no dia 15 de novembro de 1997. Como todo casal, aspiravam ter filhos, como qualquer casal em início de enlace matrimonial. Mas, apesar de serem saudáveis, Solange não conseguia engravidar. Eu tive um aborto espontâneo, logo no início. Fizemos alguns exames que não apontaram nenhum tipo de problema. A gente sempre conversou sobre adoção, mas ter filhos não era uma obstinação. Deixávamos nas mãos de Deus, pois sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, seríamos abençoados, conta Solange.
Os anos passaram e a adoção começou a se tornar um assunto cada vez mais rotineiro. Até que, em 2008, começamos a pesquisar mais a fundo sobre o assunto, e, em março de 2009, decidimos entrar na fila para adoção. Até que foi um processo rápido, pois conseguimos reunir todos os documentos necessários para prosseguir. Apesar de estarmos tranquilos, havia um pouco de pressão dos pais da Solange, que queriam ter netos. Mas a gente parecia que sabia que tudo se resolveria de maneira rápida, mesmo porque, já havíamos planejado a nossa casa para dois filhos, diz Marcos.
A alegria do encontro – De tanto insistir, o casal conseguiu que os trâmites de inclusão na fila estivessem prontos no dia 10 de agosto daquele ano. Foi uma alegria, pois este processo pode levar alguns anos. Finalmente, estávamos na fila. Agora, era só aguardar, diz Solange. Nesse meio tempo, visitamos alguns orfanatos e conhecemos algumas crianças, onde pudemos ver a dura realidade que esses seres humanos, tão indefesos, enfrentam, sendo abandonados pelos pais biológicos. Mas engana-se aquele que pensa que o casal se acomodou após isso. Nós ligávamos, duas, três vezes por semana para a Assistência Social, mostrando o nosso interesse. Isso também foi um diferencial para que tivéssemos os nossos anjinhos do nosso lado em pouco tempo, completa.
E foi pouco tempo mesmo, uma vez que um processo como esse pode durar alguns anos. Mas não para o casal Marcos e Solange. No dia 08 de setembro, ligaram avisando que havia dois irmãos para que a gente pudesse conhecer, numa cidade distante daqui. Agendamos uma visita para o outro dia já. Naquela noite, nem dormimos, imaginando como seria o rosto deles, a reação, ressalta Marcos.
No dia marcado, a viagem foi cercada de expectativa, conforme o pai. Chegando ao fórum da cidade, nos foram passadas as condições e tudo o que enfrentaram os pequenos Gustavo e Lucas, na época com três e um ano, respectivamente. Nem consegui ler o histórico inteiro, pois vi o quanto eles já sofreram até chegar ali. Quando fomos apresentados, o Gustavo não olhou muito para a gente, já indo se divertir com alguns brinquedos disponíveis no local. Já o Lucas, só chorava, ainda mais que estava com catapora.
No entanto, foi uma sensação inexplicável, pois nós, naquele momento, já nos sentíamos ‘pais deles. Tive a sensação que seria uma ligação para toda a vida, como de fato, aconteceu, acrescenta Solange.
O casal, primeiramente, passaria um fim de semana com os irmãos, para fins de aproximação. Mas os responsáveis pelo caso perceberam a gravidade da situação e, como havia um interesse mútuo, já providenciaram a guarda provisória dos pequenos para Marcos e Solange. Foi uma alegria imensa. Liguei para minha mãe, que providenciou roupas e remédios para os dois. Às 7h da manhã, já estava na nossa casa, auxiliando no que fosse preciso. Sou muito grato e ela e a meu pai, que nos apoiaram em todos os momentos. Apesar de estarmos preparados, foi um sonho realizado, pois num momento nossa casa estava ‘vazia, e no outro, tínhamos nossos tão sonhados filhos, revela Solange, em meio a lágrimas.
A primeira semana foi um pouco complicada, mas Gustavo e Lucas logos se adaptaram. A parte mais complicada foi a alimentação, porque eles só comiam arroz. A catapora do Lucas logo sarou e os meninos começaram a entrar na nossa rotina. A assistência Social continuou acompanhando e a guarda definitiva dos dois não demorou a sair, no dia 09 de dezembro de 2010, conta Marcos.
A surpresa – Durante este período, uma notícia chamou a atenção do casal. Meio que por acaso, durante os trâmites para a guarda definitiva, descobriu-se que a mãe biológica dos meninos estava grávida novamente. E que a criança, assim que nascesse, seria encaminhada ao orfanato. Foi aí que começou mais uma luta, desta vez para ter Vinícius. Marcos diz que esta foi mais difícil ainda, para provar que eles tinham condições de criar mais um filho. Foram muitos questionamentos. Continuamos com a mesma estratégia, mantendo contato quase que diariamente. O Vinícius nasceu no dia 11 de dezembro de 2009 e queríamo-lo conosco, pois sabíamos, assim como no caso do Gustavo e do Lucas, que a mãe não teria condições de criá-los, diz. Solange acrescenta que, na penúltima visita, fomos até à cidade novamente, com nosso advogado, para ter uma conversa definitiva. Chegando lá, eles queriam saber se nós já nutríamos um sentimento pelo Vini. Eu disse: claro que sim, se já estamos lutando para tê-lo ao nosso lado, é claro que o amamos. Foi o que bastou para que providenciassem a guarda provisória do irmão mais novo também.
No dia 26 de fevereiro, Vinícius, com apenas dois meses, entrava pela primeira vez em seu novo lar, para a alegria da família toda, principalmente dos irmãos, que estavam eufóricos. Eles logo queriam que o irmãozinho brincasse com eles, mas expliquei que ainda não seria possível, que eles teriam muito tempo para fazer isso. Foi o maior presente de aniversário que tive na minha vida, conta Solange, que, ao lado de Marcos, teve a alegria de passar por todas as fases de criação de um filho.
Família feliz – Atualmente, passados quase quatro anos, a família é muito feliz. Os três meninos dominam o ambiente, correndo pela casa, saudáveis, aproveitando a chance que a vida e, principalmente, Marcos e Solange lhes deram de viver com dignidade. Claro, houve algum preconceito no começo, principalmente com relação ao tom de pele dos meninos. Mas nada que não fosse superado. A alegria de poder vê-los felizes, e nos dando muita felicidade, nos faz pensar que tudo o que passamos, toda a espera por eles, valeu muito a pena. Deus é tão bondoso, que Marcos sempre falava que queria três filhos: ‘Huguinho, Zezinho e Luizinho (risos). Um filho, ou três, muda tudo na nossa vida e hoje posse me considerar uma mãe muito feliz, ressalta Solange.
Marcos completa, dizendo que é muito grato a todos que ajudaram o casal nesta batalha. Primeiramente, a Deus, que me deu uma esposa maravilhosa e uma mãe exemplar. Aos meus sogros, Renê e Raulina, que nunca mediram esforços para auxiliar na educação dos meninos. Aliás, posso dizer que a chegada deles salvou a vida da minha sogra, já que ela precisou passar por uma intervenção cirúrgica no coração muito delicada, e nos disse que iria sobreviver para poder cuidar dos netos. Por último, ao advogado Sérgio Demmer, e sua esposa Denise, que também possuem filhos adotivos. A todos eles, o nosso sincero obrigado.
Como dito no início da matéria, adotar uma criança é um ato de entrega, amor e doação. No caso do casal Marcos e Solange, esses sentimentos foram recíprocos, uma vez que eles fizeram a diferença na vida de três meninos, Gustavo, Lucas e Vinícius, que, marcados pela rejeição, tinham um futuro incerto; e os mesmos fizeram a diferença para o casal, que lutava para poder transmitir muito amor a um filho. Com certeza, uma lição de vida que deve ser aplaudida com muito louvor.