Esporte

À frente de um projeto promissor

Ex-atleta de Futsal assume o comando do Bulls, na disputa o Campeonato Municipal de Acesso.

4 de setembro de 2022

Foto: Bob Gonçalves / Jornal de Pomerode

Trilhar novos caminhos dentro daquilo que amamos, é sempre desafiador. Ainda mais, quando é possível aliar a experiência adquirida, em prol de um projeto vencedor. Pois é exatamente isso que está vivenciando a ex-atleta Patrícia Longuine.

Após se “aposentar” das quadras, depois quase uma década atuando pela equipe do Porath, ela aceitou o desafio de comandar o time masculino do Bulls, que disputou o 16º Campeonato Municipal de Futsal Masculino – Divisão de Acesso.

O Jornal de Pomerode conversou com Patrícia, sobre esta nova fase da sua vida, o quanto a experiência vivenciada no esporte vem contribuindo para a nova função e (pasmem!) sobre o preconceito que ainda existe no mundo do futebol.

 

Jornal de Pomerode – Como surgiu o convite para comandar o Bulls?

Patrícia Longuine – O convite surgiu através do dirigente Luan Hass, que recebeu uma indicação de um amigo / empresário em comum. Não conhecia o time, mas tinha alguns conhecidos que faziam parte do elenco.

 

JP – Como está sendo essa nova experiência em sua carreira?

PL – Está sendo muito impactante e positiva pra mim, me preparei psicologicamente para estar apta a fazer o trabalho da melhor forma possível. Eu vivo o futebol desde muito cedo. Como atleta, tive alguns títulos importantes no futsal. E em outra fase, como a irmã de um jogador profissional que acompanhou cada etapa. Me graduei na faculdade de Educação Física, lecionei, fiz curso de arbitragem, onde atuei, por muitos anos, em competições importantes no Paraná. E, agora, pela primeira vez, estou vivenciando a experiência de ser técnica de Futsal, repassando conhecimento e organizando elenco. É gratificante estar fazendo parte deste trabalho.

 

JP – Como a sua vivência dentro do futebol está contribuindo para esta nova função?

PL – O futebol me ensinou princípios, etapas, técnica, tática e, principalmente, o relacionamento com as pessoas. Saber conversar, expor a ideia com planejamento e lógica, faz com que as pessoas acreditem no que você propõe e onde irão dar seu melhor para colocar em prática e entender suas funções. O esporte é muito estudo, aperfeiçoou minha formas de relacionamento, aplicabilidade e me deu credibilidade para estar hoje nessa função.

 

JP – Como é a relação com os jogadores do Bulls?

PL – A minha relação com eles deu início em minha apresentação, onde expus um plano, a fim de atingir um objetivo. Expliquei formas e métodos que poderiam, naquele momento, fazer diferença na equipe. Temos um elenco sensacional, meninos / homens que compraram a ideia, acreditaram, corrigiram uns aos outros e está sendo incrível. Em nossos treinos e, agora, na competição, me sinto satisfeita. Todos que estão no elenco confiaram no meu trabalho. Tem sido muito bacana essa troca com eles, me respeitam, me ouvem e executam o que foi proposto para o time.

 

Foto: Jaciara da Silva Sá

 

JP – Quais são os principais desafios dentro desta nova realidade?

PL – O preconceito e a expectativa ampliada. Quando se olha para um esporte com superioridade de homens, em um mundo machista, é complicado e desafiador. Mulheres em cargos técnicos é algo recente no Brasil, demorou 30 anos para uma mulher chegar à Seleção Feminina. Trazendo para mais perto da gente, a cobrança desigual de desempenho pode existir, mas eu não tenho me apegado a isso, me preparei tanto para receber feedback positivo e negativo, eu sou profissional e quero ser reconhecida pelo meu trabalho.

 

JP – Ainda existe preconceito por uma mulher comandar um time masculino?

PL – Existe, sim, e muito. E, infelizmente, não vem somente dos homens, vem de mulheres que foram condicionadas a não aceitar algo novo proposto. No primeiro jogo do Campeonato Municipal, ouvi muitas palavras preconceituosas da arquibancada, porém, após desempenho da equipe, mesmo com a derrota, as pessoas, ao fim da partida, começaram a olhar de outra forma. O Bulls é um dos poucos times que possuem padrão tático, técnico, jogadas ensaiadas, controle de defesa e ataque, padrão de movimentação. São estes movimentos que construímos juntos com o elenco, em todos os treinos, conversas, detalhamento de cada situação e é notório para qualquer um, o quão bem treinado nossa equipe está. Um “professora, seu time evoluiu” vale mais do que um “eu não aceito perder para uma mulher”. Temos continuar lutando, continuar mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser.

 

JP – Pretende continuar nessa função?

PL – As oportunidades e obstáculos são diversos e grandes, mas temos que abrir a porta e mostrar o trabalho, mostrar que somos capazes. Temos um cenário ótimo em Pomerode, com meninas / mulheres e meninos / homens para montar times competitivos e jogar muitos campeonatos em alto nível, representando a nossa cidade.

 

JP – Suas considerações finais.

PL – O esporte ensina, auxilia na educação, contribui para saúde física e mental. Temos que buscar evolução das ideias, movimentos, propor coisas novas para o nosso esporte. Abrir portas que estão fechadas por lideranças retrógradas. A busca do conhecimento e a atualização não podem parar, são ciclos com diferentes caminhos a serem percorridos e quem ganha são as crianças, são as pessoas da cidade. Temos que evoluir como sociedade, na busca de quebrar paradigmas que não fazem mais parte de movimento atual, movimento de aceitação, movimento onde todos são iguais, onde temos que levar em consideração a capacidade, conhecimento sem estereotipar pelo estilo, gênero, cabelo ou cor e raça. Temos que acreditar em um futuro melhor, evoluindo e com amor e respeito ao próximo. Aproveito para agradecer em especial a toda equipe Bulls, ao dirigente Luan, que acreditou no processo e no trabalho, a cada um do elenco pelo respeito e dedicação, e aos nossos patrocinadores, que ‘embarcaram’ nessa com a gente. O Futebol / Futsal sempre foi minha paixão e não vou deixar de sonhar e de buscar meu espaço como profissional.

 

Foto: Bob Gonçalves / Jornal de Pomerode

 

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