Esporte

600km de pura adrenalina e fortes emoções

A viagem surgiu de maneira inesperada, pois seria “apenas” um pedal, de 150km, até Taió, no Alto Vale.

15 de junho de 2020

Participar de uma aventura diferente, com a oportunidade de sair da zona de conforto, é sempre desafiante. E a recompensa pelo esforço alenta a alma e coloca boas lembranças, que guardamos para toda nossa vida. Foi exatamente esta experiência que teve o massoterapeuta e professor de Capoeira, Tiago Schöfer, de 27 anos, ao vivenciar a experiência de pedalar cerca de 600km, em duas semanas, entre Pomerode e Nova Petrópolis (RS).

Segundo Schöfer, a viagem surgiu de maneira inesperada, pois seria “apenas” um pedal, de 150km, até Taió, no Alto Vale, cidade natal de sua mãe. “Por si só, isso já seria um grande desafio. Devido a uma folga em meus trabalhos, logo veio a necessidade de fazer alguma coisa, me movimentar, me aventurar. Fui buscar no Youtube alguns vídeos sobre a cidade de Taió e, aleatoriamente, encontrei o canal de um casal que faz cicloturismo pelo Brasil. Aí surgiu a ideia de ir de bike e, como sempre pratiquei esportes e gosto de desafios, logo percebi que isso seria possível”, comenta.

 

Fui buscar no Youtube alguns vídeos sobre a cidade de Taió e, aleatoriamente, encontrei o canal de um casal que faz cicloturismo pelo Brasil. Aí surgiu a ideia de ir de bike e, como sempre pratiquei esportes e gosto de desafios, logo percebi que isso seria possível.

 

O passo seguinte foi arrumar a sua bicicleta, uma icônica Caloi 10, de 1980, com um alforge – espécie de saco duplo, utilizado para distribuir o peso pelos dois lados do quadro – para carregar a barraca e roupas. “Além disso, adaptei suportes para levar água e comida, e, então, parti. A ideia era ir devagar, com calma, aproveitar as paisagem e conhecer os lugares e pessoas por onde passasse, preparar a minha comida e acampar na beira da rodovia, com todos os devidos cuidados.

Como tenho uma longa experiência com acampamentos e viagens, pois faço isso desde minha adolescência, não seria muito difícil”, frisa o pomerodense.

 

Um dos momentos marcantes da viagem: a chegada na divisa de SC com o RS (Foto: Arquivo Pessoal)

Gestos de gratidão

Dentro de três dias, o viajante já estava em Taió. Por lá, ele relata que conheceu várias pessoas legais, nos lugares por onde passou. “Por exemplo, eu acampei em uma cachoeira, na qual, o dono das terras foi muito gentil, tanto que até me trouxe cobertores e um colchão, para que eu pudesse ter uma noite mais agradável, devido ao frio”.

No quarto dia, o viajante conta que uma a ideia de continuar o pedal veio à sua cabeça. “Eu tinha duas semanas livres, mas não comida, nem dinheiro suficiente – apenas R$ 20,00 – e, tampouco, um cartão crédito ou débito. Foi então que tive que tomar a decisão: voltar para casa ou continuar e pedir ajuda no caminho e trocar minha mão de obra por comida ou dinheiro. E como não sou daqueles que desiste, já que aprendi, desde cedo, a ‘me virar’, resolvi seguir viagem”.

 

Eu tinha duas semanas livres, mas não comida, nem dinheiro suficiente – apenas R$ 20,00 – e, tampouco, um cartão crédito ou débito. Foi então que tive que tomar a decisão: voltar para casa ou continuar e pedir ajuda no caminho e trocar minha mão de obra por comida ou dinheiro.

 

Durante o percurso, Schöfer conheceu grutas e cachoeiras, rodando no asfalto e na terra batida no cascalho, e conversou com muitas pessoas, que também, como ele, tinham histórias de superação para contar. “A que mais me chamou a atenção foi a de um senhor que encontrei, perto de Lages, e que estava vindo a pé, de Porto Alegre, para trabalhar em Ituporanga. Ou seja, ele já havia andado 350km e iria percorrer mais 100. Isso me deu mais força para continuar”. Além disso, a sua bicicleta já falava por ela mesmo, que ele estava em uma aventura. “As pessoas logo vinham perguntar para onde eu estava indo, de onde eu era. Mas a que me deixava mais feliz era: ‘precisa de alguma coisa?’. Isso mostra como muitos ainda se preocupam com os outros”, completa.

 

Belas paisagens fizeram parte de todo o pedal (Foto: Arquivo Pessoal)

O medo

Na cidade de Lages, o professor já havia percebido como seria a viagem: com belas paisagens, muitas frutas à beira da estrada e pessoas boas pelo caminho. Mas, também, percebeu que seria duro, devido às fortes subidas serra acima, noites muito frias, quatro pneus furados, escassez de comida e vários trechos perigosos, sem acostamento, com os caminhões passando muito perto.

“Próximo ao município de Vacaria (RS), encontrei um cachorro do mato atropelado, isso me assustou um pouco, pois sabia que, por ali, poderia haver mais desses animais. Nesse dia, após um dia todo de pedal, montei a barraca, preparei a janta e, quando havia acabado de comer, olhei para trás e vi um desses cachorros me olhando. Ele estava a uns sete metros de distância, era grande e marrom bem escuro. Me levantei e dei um berro bem alto, tanto que ele saiu correndo, mas rosnando bem forte. Eu entrei na barraca e não saí a noite toda”, conta, aos risos. “Mesmo sabendo que este tipo de animal, geralmente, não ataca seres humanos, na situação que eu estava, sozinho, com quase nada de iluminação e no meio de uma plantação de pinus, leva-se um belo susto”, acrescenta.

 

Mesmo sabendo que este tipo de animal, geralmente, não ataca seres humanos, na situação que eu estava, sozinho, com quase nada de iluminação e no meio de uma plantação de pinus, leva-se um belo susto.

 

Outro fato marcante foi no município de Campestre da Serra (RS), quando foi “ameaçado”. “Também à noite, na hora de acampar, escolhi o lugar, com um pinheiro bonito, bem encostado na cerca de uma fazenda. Quando já havia montado tudo, veio um senhor bêbado, se apresentando como dono da fazenda, e me perguntou o que eu estava fazendo ali. Expliquei que estava viajando e ele resistiu um pouco, dizendo: ‘você até pode ficar aí, mas se pular para o lado de cá, vai levar uma carga de chumbo bem carregada no lombo’. Hoje, soa até engraçado, mas como eu estava sozinho, a preocupação bate”, diz.

 

Bicicleta foi especialmente preparada para a aventura (Foto: Arquivo Pessoal)

Momentos inesquecíveis

Durante a viagem, segundo Schöfer, quando parava em alguma casa para pedir um copo de água, várias pessoas logo o convidavam para entrar, ofereciam café, algo para comer e contavam suas aventuras de jovem. “Tudo isso foi muito gratificante e inspirador para mim, afinal, a gratidão de uma palavra amiga, um café oferecido com amor ou um bom dia sincero, nutre muito mais do que qualquer banquete”, enfatiza.

Em toda a viagem, o pneu da bicicleta furou quatro vezes, mas a primeira foi a pior. “Como eu não havia levado equipamentos e ele estourou a 35km do borracheiro mais perto, o negócio foi empurrar. Marcante também foram as descidas das diversas serras, já no Rio Grande do Sul, onde a vista dos enormes vales davam a sensação de estar conectado, intimamente, à natureza”.

 

Como eu não havia levado equipamentos e ele estourou a 35km do borracheiro mais perto, o negócio foi empurrar. Marcante também foram as descidas das diversas serras, já no Rio Grande do Sul, onde a vista dos enormes vales davam a sensação de estar conectado, intimamente, à natureza.

 

Quem quiser saber mais sobre esta e outras aventuras, o massoterapeuta possui uma página no Instagram, chamada @acampamundo. “Lá, todos poderão acompanhar tudo sobre as minhas viagens. A mensagem que fica? Vá! Faça! Não boicote seus sonhos, possibilite-se de viver aquele momento, aquele lugar que, só de pensar, dá um aperto no peito e um nó na garganta. Além disso, tenha amor pelas pessoas, ajude e compreenda mais. E quando você voltar, vai se sentir realmente vivo”, finaliza.

 

Notícias relacionadas