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50 anos da Ditadura

Há 50 anos, em 31 de março, os militares tomavam o poder e instauravam um período cheio de controvérsias na sociedade brasileira

1 de junho de 2015

Como o Golpe Militar mudou a história do Brasil…ou não

Em 31 de março o golpe militar completou 50 anos e desde então, o Brasil se consolidou de vez como um país de regime capitalista. Mas o que será que teria acontecido com o Brasil se o presidente Jânio Quadros não tivesse renunciado? Ou se os militares não tivessem tomado o poder em 64? De acordo com o professor de história, Uwe Hass, os brasileiros poderiam estar vivendo hoje em dia, sob um regime socialista.

Engana-se quem pensa que o golpe militar aconteceu do dia para noite. O próprio Getúlio Vargas, em 1930 já havia tomado o poder a força, tirando o então presidente eleito, Júlio Prestes de seu cargo. Houve muita especulação posteriormente, no segundo mandato de Vargas. Só em 1954, após 15 anos de governo ditatorial, que o gaúcho ganha as eleições presidenciais em regime democrático, mas a oposição foi contra suas medidas de governo. Seus atos nacionalistas, como a construção da Petrobrás e a campanha O Petróleo é Nosso, gerou desconforto com o presidente do congresso, pois essas decisões eram contra os setores empresariais. A pressão culminou no tão falado suicídio de Vargas, algo que até hoje não foi bem explicado.

Depois veio a gestão de Juscelino Kubitschek, que segundo o professor Uwe, foi uma gestão mais entusiasta que realista. JK queria construir uma nova capital, mas e o dinheiro para isso? O presidente pedia boa vontade dos credores, mas alguém tinha que pagar a conta, ai entram os Estados Unidos, que emprestaram dinheiro ao Brasil e iniciou-se a dívida externa. Quando a gestão do JK acabou e Jânio Quadros assumiu o mandato, as dívidas continuavam vivas e isso atrapalhou a gestão. Nesse período os Estados Unidos investiam pesado nas forças armadas brasileiras e para piorar, Jânio Quadros tinha aspirações socialistas, que incomodavam, e muito o tio Sam, a exemplo da Cuba socialista de Fidel Castro. Se no Brasil se instaurasse um regime socialista, os Estados Unidos estariam com problemas. No Brasil de hoje em dia, se houvesse um regime socialista, estaríamos como a Coréia do Norte, com um presidente faraó soberano do século XXI. Se Jango tivesse seguido como presidente, muito provavelmente, a União Soviética não teria sido desmembrada em 1991, tendo Brasil e Cuba como seus aliados. Hoje em termos de lei, haveria uma grande cobrança e uma carga de disciplina muito alta. O Brasil, provavelmente teria seu próprio programa espacial, mas por outro lado, talvez tivéssemos alguns atrasos tecnológicos, explica o professor Uwe.

Mas era o capitalismo o destino reservado aos brasileiros. O golpe aconteceria de qualquer maneira. Com a dívida externa, os Estados Unidos cobraram uma posição das forças armadas: ou os militares tomavam uma atitude, ou os Estados Unidos tomariam. Jânio Quadros sentiu-se ameaçado e decidiu depor de seu cargo, esperando que o povo o trouxesse de volta. Desse modo, suas aspirações seriam aceitas sem maiores questionamentos. Mas isso não aconteceu, porque o presidente não se mostrou como sendo um alicerce forte, que tanto falou em sua campanha política. Tinha a vassoura como símbolo. Dizia que varreria a corrupção, mas não tinha um pulso tão firme e se perdeu entre suas promessas. O vice, João Goulart estava na China quando tudo aconteceu e esse foi mais um motivo, para que fosse podado entre os anos de 1961 e 1963. Jango criava estatais regionalizadas, mais um indício de sua predileção socialista, para o desespero dos empresários.

Foi a gota dagua para os simpatizantes do capitalismo. Os militares tomaram o poder, na verdade em 1º de abril de 1964, mas a data oficial ficou em 31 de março, para que não parecesse uma brincadeira do dia da mentira. Esse foi um período cheio de controvérsias. Quem era contra, ou foi morto ou exilado. Quem não se lembra do caso misterioso de Vladimir Herzog, ou tantos outros desaparecidos no período. O professor Uwe conta que a Copa do Mundo, vencida pelo Brasil foi um golpe de sorte para os militares, que aproveitaram o estardalhaço do evento e, enquanto todos comemoravam, os presos políticos caiam no esquecimento e eram executados sem muitos inconvenientes. Quem não se lembra ainda de artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil que se viram obrigados a deixar o pais?

Por outro lado, foi um período de efervescências culturais e até mesmo do sistema econômico. Nesse período houve o chamado Milagre Brasileiro e foram realizadas obras como a Transamazônica, a Ponte Rio Niterói e a Usina de Itaipu. Houve a crise do petróleo nos anos 1970, mas isso culminou no próalcóol, uma fonte de energia limpa.

Alguns afirmam que a ditadura terminou em 1985, com a eleição de Tancredo Neves. Outros acreditam que foi apenas em 1988, quando nossa atual constituição foi instaurada. Uwe crê que a decadência começou antes, em 1979, com a anistia dos presos políticos, que permitiu a volta de tantos exilados. O governo afrouxou as amarras e grupos começaram a ir pra rua com voz ativa, culminando no Diretas Já, em 1984. Após esse período, com a posse de Sarney, o povo comemorava a vitória, o fim da ditadura. O que aconteceu após o período da ditadura foi uma volta de 360º. A ditadura começou principalmente pelo receio do socialismo e o interesse dos capitalistas. Quando ela terminou, o povo se viu livre, mas no entanto, foi apenas uma maneira de aceitarem o capitalismo, sem que isso fosse percebido. Foram 21 anos para a sociedade brasileira voltar ao mesmo lugar. Quando entraram os presidentes Fernando Collor e Fernando Henrique a primeira coisa a fazerem foi privatizar, finaliza o professor.

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