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Passado grandioso, com futuro incerto

Porcelana Schmidt tem atividades fabris drasticamente reduzidas, em contraste com a história grandiosa da empresa

30 de maio de 2020

No início da semana, Pomerode foi surpreendida por uma notícia que entristeceu boa parte da cidade. A direção do Grupo Schmidt, que inclui a fábrica pomerodense da Porcelana Schmidt, decidiu encerrar boa parte das atividades fabris da empresa aqui e mantendo, apenas, 15 colaboradores, em um único setor da empresa.

A realidade atual é bem distinta da grandeza que um dia a Porcelana Schmidt já teve, sendo, inclusive a principal indústria da cidade em seus tempos áureos, chegando a ter um parque fabril com cerca de 38 mil metros quadrados, em uma estrutura que existe até hoje, no centro da cidade.

A história da fábrica em Pomerode começou em 1945, quando a Família Schmidt decidiu se mudar novamente para Santa Catarina, com a ideia fixa de fundar a Porcelana Schmidt. Esta ideia tornou-se realidade em 19 de dezembro do mesmo ano. Os fundadores, de acordo com um levantamento feito pela historiadora Angelina Wittmann, foram Hans Herwig Schmidt, Hans Ernst Schmidt, Ailhen Krämer, Arthur Leopold Schmidt e Rodolph Pedro Schmidt. Com isso, a Porcelana tornava-se a 3ª fábrica de cerâmica do Brasil.

 

A primeira instalação da Porcelana Schmidt foi em um galpão de madeira, no centro de Pomerode. Em pouco tempo de atividade, a empresa teve acentuado crescimento, motivada pela moderna tecnologia e aumento de sua capacidade produtiva – no período do pós-guerra.

Em 1948, a Família Schmidt admitiu novos acionistas e, com o novo quadro de entrada de capital, adquiriu as ações da Porcelana Real Ltda., de São Paulo. Em 02 de janeiro de 1954, foi fundada a Porcelana Steatita e, em 1956, a Porcelana Schmidt adquiriu o controle acionário da Cerâmica Brasileira de Campo Largo (PR), transformando-a, também, em fábrica de cerâmica, Porcelana Steatita. 

 

(Foto: Angelina Wittmann)

Em 1972, as três empresas se fundiram, surgindo o Grupo Schmidt a partir de três cidades, em três estados distintos: Pomerode, Campo Largo (PR) e Mauá (SP). Neste período, a empresa chegou a produzir mais de um milhão de peças de porcelana por mês, a partir de uma estrutura de 60.000 m2 e com, aproximadamente, 1.500 funcionários.

 

Em 1991, as três fabricas passaram por uma reestruturação e não usaram mais as marcas Steatita e Real, trabalhando todas sob a marca Porcelana Schmidt e sobre o símbolo da Coroa. Durante a década de 1990, a empresa detinha 80% do mercado nacional do setor de porcelana.

 

Um dos integrantes da família Schmidt, que reside até hoje em Pomerode, é Rodolpho Otto Schmidt, que atuou por cerca de 40 anos na empresa da família, fundada na década de 1940, por seu pai e tios. 

“Antes, meus tios e meu pai trabalhavam na Porcelanas Real, em Mauá, mas queriam criar uma fábrica em Santa Catarina. E um fato curioso é que, inicialmente, a fábrica era para ser na cidade de Timbó, porque a família Schmidt era de lá. Mas quando o meu tio, Arthur estava vindo de ônibus, de São Paulo para cá, o veículo quebrou, em Jaraguá do Sul. Então, ele precisou pegar um táxi para continuar a viagem e o dono deste táxi era Alwin Klotz, que, futuramente, seria prefeito de Pomerode. Durante a viagem, ele fez a cabeça do meu tio para que abrisse a fábrica aqui, principalmente, pela mão-de-obra de origem alemã que teria aqui. Então, meu tio acabou aceitando a ideia e decidiram abrir a fábrica em Pomerode”, conta.

 

Junto à Indústria e Comércio Weege, a Porcelana Schmidt foi uma das primeiras indústrias de Pomerode, já que a outra possuía um caráter mais agroindustrial. Com o passar dos anos, a Porcelana Schmidt foi crescendo, se tornando uma das principais do país no setor, como citado acima.

Segundo Rodolpho Schmidt, a crise começou a atingir a empresa na década de 1990, quando o então presidente, Fernando Collor, abriu a economia brasileira e, a partir daí, começaram a chegar os produtos vindos de exportação, principalmente, da China. E um dos produtos que mais vinha daquele país eram as peças de porcelana, na qual, a China tinha tradição milenar. “Com as importações, vinham muitos produtos de qualidade inferior, só que mais baratos, o que tornava difícil a concorrência”, comenta Schmidt.

Outro ponto que intensificou a crise foi a mudança cultural que ocorria nas famílias, Brasil afora. Isso porque perdeu-se a tradição de ter conjuntos de louça completos, principalmente, para eventos familiares. “As casas ficaram menores, com menos locais em que se poderia guardar a louça e muitos eventos, como aniversários e comemorações, passaram a ser fora de casa. Isso tudo teve reflexos na indústria da porcelana”, afirma.

A partir de então, a indústria passou a sofrer intensamente com a crise. Em 2010, houve atraso de salários e a empresa entrou em Recuperação Judicial, para evitar a falência. Desde então, houve altos e baixos, até chegar a redução a quase zero da produção em Pomerode, anunciada nesta semana.

Schmidt enaltece a importância que a Porcelana Schmidt teve e tem para a história de Pomerode, deixando um legado inesquecível para a cidade. “Naquela época (quando a Porcelana Schmidt foi criada), não havia outros empregos, então, era o único emprego que se conseguia em Pomerode. Quem conseguia um emprego na Porcelana Schmidt considerava estar com a vida feita, era uma ambição. Portanto, dói muito no coração ver essa situação, até porque Pomerode era chamada ‘a cidade da porcelana’ e isso desaparece agora, inclusive, com a incerteza sobre o que acontecerá com o terreno e as instalações”, destaca Rodolpho Schmidt.

 

A redução

Na tarde dea terça-feira, 26 de maio, a Porcelana Schmidt, cuja matriz localiza-se na cidade de Campo Largo (PR), emitiu uma nota oficial a respeito do futuro da unidade fabril pomerodense.

Em comunicado, a empresa informou a redução de suas atividades na unidade fabril pomerodense e afirma que a decisão acontece de forma a “reestruturar-se, dispensando colaboradores e readequando o processo produtivo na unidade fabril de Campo Largo/PR”.

A Porcelana Schmidt também afirmou, na nota, que “apenas um dos setores instalados na empresa em Santa Catarina continuará operando, com, aproximadamente, 15 colaboradores”, mas não informou qual setor será este.

O sindicato dos trabalhadores da Indústria de Cerâmica, Porcelana e Barro de Pomerode e Timbó, afirmou que cerca de 75 funcionários atuavam ainda na unidade. Parte do maquinário existente na unidade fabril de Pomerode será transferido para a fábrica de Campo Largo. A loja de fábrica permanece aberta, normalmente.

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