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Em meio à tragédia, um ato de amor ao próximo

Família pomerodense auxilia crianças envolvidas em grave acidente, na SC-110, ocorrido na segunda-feira.

17 de março de 2021

O dia 15 de março de 2021 ficará marcado, para sempre, na memória e no coração da família Zanatta. Isso porque, em meio à tristeza de presenciar um acidente com dois óbitos, três integrantes da família e um amigo puderam prestar um ato de solidariedade a duas crianças, que conseguiram escapar com vida da colisão.

Tudo corria normalmente na rotina dos pais, Loiri e Oneide José Zanatta, do filho Jeferson e do colaborador deles, Gabriel Cruz. Todos eles voltavam a Pomerode, depois de uma segunda-feira de muito serviço, em seus empreendimentos, na cidade de Jaraguá do Sul. “Fechamos nosso estabelecimento às 19h e viemos embora, pois tínhamos um aniversário surpresa para fazer em Pomerode. No trajeto, um pouco antes do acidente, o rapaz do Civic nos ultrapassou e, pouco tempo depois, vimos o acidente. Foi tudo muito rápido, só vi o Civic colidindo contra a Brasília”, relata Jeferson.

Após o susto inicial, o condutor conta que diminuiu a velocidade, ligou o alerta e já viu umas das meninas correr para o outro lado da rua. “Ela estava atordoada, tanto que saiu de perto do corpo do avô e veio para o meio do asfalto, sem olhar. Nisso, eu já freei e liguei o alerta do carro. Assim que abrimos as portas, ela veio em minha direção, me abraçando forte. Peguei ela no colo e, quando olhamos para o outro lado, vimos a outra menina, ao lado do corpo da avó”, relata.

Enquanto Jeferson e Loiri amparavam as duas crianças, Oneide foi até mais próximo, para verificar se havia mais alguma vítima. “Havia roupas e sapatinhos das crianças espalhados pela rodovia, uma cena muito terrível de se ver. Nisso começou a juntar pessoas, todas tentando ajudar, de alguma forma. Até que fui chamar alguns familiares, que moravam ali perto”.

 

 

Jeferson conta, também, que enquanto as meninas estavam no colo, pediam para que salvassem os seus avós. “Elas falavam: ‘não deixa minha avó morrer, vamos levar eles para o hospital’. Também nos abraçavam muito forte e perguntavam: ‘nós não vamos morrer, né?’. Isso me marcou muito. Tenho duas filhas e me coloquei no lugar destes familiares, que teriam que explicar às duas como tudo isso aconteceu”.

Outra cena marcante aconteceu quando os familiares começaram a chegar. “Ali foi muito dolorido, víamos os filhos desmaiando, pessoas desesperadas. Tanto que os bombeiros e médicos reguladores tiveram muito trabalho. Eles fizeram um trabalho ‘gigante’”, complementa.

No entanto, as fortes emoções continuaram, após a família Zanatta chegar em casa. “Como tínhamos um aniversário surpresa, acabamos nos atrasando e todos já estavam preocupados. Mas quando vi minhas filhas, só agradeci a Deus por poder ter ajudado aquelas meninas e, também, por poder desfrutar do amor das minhas pequenas, sempre chegando em segurança na minha casa”, diz, emocionado.

 

O presente

Depois de descobrir que um dos genros do casal que faleceu era seu conhecido, Jeferson propôs à família que que fizessem uma visita às crianças, a fim de levar-lhes uma lembrancinha, no dia seguinte. “Por tudo o que elas passaram, é o mínimo que podíamos fazer. Então, pedi para minha mãe fazer uma cestinha de Páscoa, para presentear as duas. Naquele momento, era como se eu estivesse presenteando as minhas filhas, tamanha a ligação que construímos, em meio à tragédia. Pude ver no olhar delas a alegria. Até comentei com os familiares que, apesar de estarem enterrando duas pessoas queridas, outras duas renasceram naquela noite”.

 

Apesar dos ferimentos, as pequenas Raíssa e Raiane desfrutaram dos presentes ofertados pela família Zanatta  |  Foto: Divulgação


 

A família envolvida neste trágico acidente também agradece pelo ato de amor ao próximo que os quatro tiveram, naquele momento de dor. “Não tenho palavras para agradecer pelo gesto de salvar as meninas. Eu digo que foi Deus quem colocou estes anjos naquela hora. Se não fosse por eles, não imagino o que poderia ter acontecido a elas”, declara a tia de Raíssa e Raiane, Ivonete dos Santos.

Para ela, o sentimento de gratidão será perpetuado pela vida toda. “Apesar de tudo, temos que continuar vivendo, pelos anjinhos que ficaram. Estamos tentando minimizar esta dor, tanto para elas, quanto para a gente. Por isso, a nossa eterna gratidão”, finaliza Ivonete.

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