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A vida, em meio às incertezas

Mesmo com a apreensão causada pelo coronavírus, mães encontram esperança na chegada de seus filhos

8 de agosto de 2020

Com a crise causada pela pandemia do novo coronavírus, a apreensão é um sentimento constante na rotina de todos e, muitas vezes, o nosso foco é voltado apenas às coisas ruins que vêm ocorrendo. Porém, em meio às mortes e discussões sobre que rumo devemos tomar, ainda há alegria e vida que se renova, diariamente.

Foi em meio à pandemia que Maju Valentin Marques veio ao mundo, no dia 08 de maio, de uma forma, hoje, pouco convencional. A primeira filha do casal Mayla Iara Valentin, 30 anos, e Rogério Corrêa Marques Junior nasceu em casa, em um parto normal, humanizado, algo que sempre foi o sonho de Mayla, para a maternidade.

“Maju nasceu dia 08 de maio, às 10h52, num parto domiciliar planejado. A equipe que me assistiu foi a mesma que me preparou durante todo pré-natal, porém sem a médica obstetra, apenas as enfermeiras (enfermeira obstetra e enfermeira) e a doula. Meu parto durou cinco horas e meia, e Maju nasceu em perfeito estado de saúde. Não houve nenhum tipo de complicação durante o parto”, conta a professora de música.

 

 

Mayla revela que o sonho de ter o parto em sua casa já existia antes mesmo de engravidar e quando isso aconteceu, ela buscou a orientação e os serviços da doula Elisâgela Meier e de uma equipe de parto humanizado, com uma obstetra, Dra. Veruscka Gromann, uma enfermeira obstetra, Milene Rosa, uma enfermeira, Wandy Plebani e uma pediatra, Ana Carolina Casagrande.

O atendimento da doula Elisângela, segundo Mayla, foi sempre na residência do casal. Foram feitas consultas mensais abordando diversos temas em cima do parto, pós parto, puerpério, maternidade e paternidade. Com a vinda da pandemia, as consultas passaram a ser online. 

Já com a equipe de parto, nos primeiros meses Mayla teve atendimento no consultório da obstetra, Dra. Veruscka, quando a professora tirava dúvidas sobre o parto, medos e inseguranças, rede de apoio, onde sanavam as suas dúvidas e as dúvidas do marido. Os ultrassons necessários foram feitos sempre em clínica. 

“A partir de 28 semanas de gestação, as consultas passaram a ser domiciliares. Veruscka e Wandy vinham até nossa casa, nós tomávamos café e conversávamos sobre muitas coisas importantes: como foram nossos nascimentos e como intuitivamente eles impactaram nossa vida e nossas decisões para o nascimento da Maju, o papel do pai no parto e puerpério, rede de apoio, amamentação, fases do trabalho de parto, plano de parto. Um dia depois de fazermos a segunda consulta domiciliar foi anunciado a primeira quarentena. A partir daí nossas consultas passaram a ser online”, comenta Mayla. 

 

(Foto: Arquivo pessoal)

A partir de 36 semanas as consultas foram quinzenais e com 38 semanas seriam semanais. As consultas continuaram sendo online, com a equipe, e no fim da consulta ou a médica obstetra ou a enfermeira obstetra vinham até a casa, sempre de touca e máscara, para examinar a futura mamãe. 

A rotina do casa mudou devido à necessidade do isolamento social. Logo que anunciado a quarentena, Mayla e o marido ficaram em isolamento total, vendo apenas a obstetra ou a enfermeira obstetra quando vinham fazer os exames. 

 

Mayla com a pequena Maju e o marido, Junior, após o nascimento. (Foto: Arquivo pessoal)

 

“Como era, e até hoje é, tudo muito novo, naquela época ainda não sabíamos quais os riscos para as gestantes, então preferimos não correr nenhum risco. Hoje sabemos que qualquer gestante, até mesmo as que não tem comorbidades, pertence ao grupo de risco do Covid. Com o nascimento da Maju se aproximando, fizemos combinados com nossas famílias: até 15 dias após o parto somente a minha mãe viria até nossa casa para nos ajudar, e ela foi nossa principal rede de apoio. Todos os outros familiares próximos esperaram 15 dias ou mais para conhecerem a Maju. Pedimos que quando viessem, viessem direto de casa, com roupas limpas, máscara, ao chegar aqui tirassem os sapatos e fossem imediatamente lavar as mãos e passar álcool gel. Os amigos conhecem ela apenas por vídeo e fotos. Minha mãe veio praticamente todos os dias do primeiro mês da Maju para nos ajudar. Como os casos de Covid só vem aumentando, resolvemos fazer novamente isolamento”, revela Mayla. 

 

Mesmo com toda a apreensão, gerada pela situação incerta que a sociedade vivencia, a professora de música não deixa de ressalta a felicidade em ter a sua pequena Maju nos braços, trazendo esperança e felicidade a todos da família.

“Eu fico muito feliz por ter vivenciado o que sempre sonhei, mesmo com tantas adversidades. Maju é muito esperta e está se desenvolvendo muito bem. Porém bate uma tristeza quando penso que não sabemos quando poderemos dar uma volta no parque com ela, ou leva-la à praia. Se o primeiro Natal dela poderá ser em família, ou se será somente conosco. Mas temos esperança que tudo isso logo vai passar e o mundo viverá um novo momento, com mais empatia e amor”, enaltece.

Ainda sobre a experiência do parto domiciliar, Mayla destaca a responsabilidade que cerca as ações, para que o nascimento do bebê ocorra em casa. “Acho importante ressaltar que meu parto aconteceu de forma muito responsável. Eu fui uma gestante de risco habitual, ou seja, minha gestação foi muito saudável, minha bebê estava se desenvolvendo bem, e em posição cefálica (cabeça para baixo)! Foi um parto planejado e assistido por uma equipe de profissionais muito séria.  Para mim, essa foi a experiência mais intensa e especial que já vivi na vida. Foi a realização de um sonho. Entender e viver a potência do nosso corpo, de forma amorosa e respeitosa é maravilhoso”, frisa Mayla. 

A doula Elisângela Meier, que acompanhou a gestação e o parto de Mayla, destaca que a opção pelo local onde o parto ocorrerá deve ser uma escolha da mulher. “As mulheres que procuram doula estão em busca de um parto respeitoso. Muitas delas já estão decididas pelo local do parto, outras ainda estão pesquisando qual opção consideram melhor para si. Nós, doulas, oferecemos material de pesquisa, como livros e documentários, para que a escolha seja sempre da mulher. A nós cabe apoiar”, destaca.

Ela também explica que o parto domiciliar assistido é uma opção para gestações de risco habitual. Há critérios a serem respeitados e deve sempre acontecer com equipes habilitadas, seguindo todas as normas de segurança. Elisângela também destaca que não é necessário autorização médica para parto domiciliar. Em Santa Catarina, médicos estão proibidos de assistir partos domiciliares. Equipes com enfermeiras obstetras estão habilitadas para assistir partos de risco habitual, inclusive em domicílio.

“Durante a pandemia a casa da gestante é sem dúvida um local mais seguro que o hospital para evitar exposição, mas se ela desejar o parto domiciliar apenas para fugir do risco ao vírus talvez seja melhor reconsiderar. Parto domiciliar deve ser um desejo verdadeiro, não uma fuga. Outra observação importante é que o distanciamento social deve ser respeitado por toda família da gestante, durante a pandemia, principalmente para que o parto possa acontecer em casa”, ressalta a doula.

 

Presente em meio ao furacão

O casal Janice Cristina Peiker e Jefferson Dirlei Bahr, desde o início do relacionamento, há 14 anos, já conversava sobre a possibilidade de terem filhos, mas o desejo de aumentar a família veio depois do casamento, há seis, anos. A massoterapeuta de 31 anos, comenta que resolveram, antes, terminar a casa e concluir mais alguns projetos pessoais. 

“Quando decidimos iniciar as tentativas, nos deparamos com a decepção de não conseguir. Depois de um ano e meio de expectativas frustradas e de realizar vários exames, descobrimos um leve problema de infertilidade, o qual foi tratado e em dois meses tivemos nosso primeiro positivo, em agosto do ano passado. Lembro nitidamente da nossa euforia diante da situação. Porém, infelizmente, tivemos um aborto espontâneo no primeiro trimestre da gravidez. Foi uma fase muito difícil, onde vivenciamos uma turbulência de sentimentos, até que finalmente conseguimos compreender que aquele serzinho, que em tão pouco tempo nos despertou o mais lindo e puro amor, veio com alguma missão e que Deus é bom o tempo todo pois sempre faz o melhor. Depois de alguns meses, seguindo tratamento e com o desejo cada vez mais aflorado de sermos Pai e Mãe, aconteceu o inesperado mais esperado de nossas vidas: nosso bebê arco-íris está a caminho! Estamos à espera do nosso filho Arthur Ravi”, relata Janice.

 

(Foto: Dani Peiker Fotografia)

A massoterapeuta, que tem 28 semanas de gestação, admite que, no início, havia o medo de passar por tudo novamente, mas afirma que entregaram a situação nas mãos de Deus e agora estão vivendo seu maior sonho.

“Estou amando cada fase da gestação! De ouvir o coraçãozinho e acompanhar o desenvolvimento do nosso bebê nas consultas de pré-natal; de sentir esses deliciosos chutinhos e movimentos dentro de mim; de ver meu corpo se transformando para gerar uma vida (adorando cada nova curva); de curtir os preparativos e compartilhar essa alegria com nossos familiares e amigos (mesmo com as restrições devido a pandemia, não estamos deixando de aproveitar este momento tão especial). Me pego várias vezes acariciando e admirando minha barriga em frente ao espelho. Sempre me emociono e penso: nossa, aquilo que eu tanto pedi, orei e sonhei está acontecendo”, destaca Janice.

Ela também tem o desejo de fazer o parto normal, pensando naquilo que for melhor para o nosso bebê e para a sua saúde. Arthur Ravi deve vir ao mundo no fim do mês de outubro.

 

O chá de revelação de Janice foi apenas com parentes próximos, devido à pandemia. (Foto: Dani Peiker Fotogradia)

“Está tão prazeroso estar grávida que por mim a gestação poderia durar mais tempo (risos) mas ao mesmo tempo, não vejo a hora de segurar nosso Arthur Ravi nos braços. A instabilidade e incertezas nas quais o mundo está passando, acabam afetando a nossa tranquilidade. Porém, estamos seguindo as recomendações médicas, fortalecendo nossa fé, e nos adaptando as situações para não deixarmos simplesmente os dias passarem. Estamos vivendo intensamente essa fase tão maravilhosa e curtindo cada etapa. Este ano pode estar tudo do avesso, mas estamos recebendo a maior bênção de nossas vidas e não há problema (ou pandemia) que acabe com essa felicidade. Uma nova vida, ainda mais diante de toda essa situação do mundo, é sempre uma esperança e uma maneira para enxergarmos que há motivos (e muitos) para agradecer”, finaliza.

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