Esporte

2011: o título da superação

Em 2010, Eder Ramos Ribeiro foi desenganado por muitos. Mas no ano seguinte, ele deu a volta por cima.

2 de agosto de 2020

“Veja! Não diga que a canção está perdida. Tenha fé em Deus, tenha fé na vida. Tente outra vez!” Estes conhecidos versos, compostos por Raul Seixas e Paulo Coelho, foram a força motriz de Eder Ramos Ribeiro, em 2011. Isso porque, vindo de uma contusão no ano anterior, foi desenganado por muitos. No entanto, com fé, perseverança e “tentando outra vez”, o goleiro do Água Verde deu a volta por cima e ajudou o time a conquistar o Campeonato Regional da LPD daquele ano.

Sua determinação foi mostrada logo no primeiro jogo, no qual, defendeu um pênalti e, a partir daí, sabia que seria campeão. “Ali foi o meu ‘cartão de visitas’. Lembro que estávamos ganhando de 1 a 0 até os 44 do segundo tempo, quando o Érico chegou em mim e disse: ‘Eder, pede para sair, você está inseguro no jogo, não se prejudique’. Depois da defesa do pênalti, eu gritei muito, como se fosse um renascimento.  Nas quartas-de-final, também fiz duas defesas importantes, contra o Poço Fundo, quando eles já comemoravam o gol. Devido às circunstâncias, este foi o meu maior título”, declara o goleiro.

Por isso, as lembranças daquela final são as melhores possíveis, principalmente, no primeiro jogo, onde teve uma atuação praticamente perfeita. “Lembro como se fosse hoje, no primeiro jogo, sabíamos das nossas limitações perante o Botafogo. Naquele dia, eu estava numa adrenalina tão grande, que acabei chegando no Estádio da Colina às 11 da manhã, numa mistura de nervosismo com alegria. Lembro que chovia, encostei o carro atrás da trave e comecei a imaginar o jogo e as possíveis defesas que poderia fazer”, relembra. Aquela partida também é considerada, por ele, a melhor da sua carreira. “Estava vivendo na volta ao futebol, tanto que o pessoal brinca, até hoje, que só não fiz chover porque já chovia naquele domingo”, acrescenta, aos risos.

 

Partida final foi disputada em Testo Alto (Foto: Arquivo JP)

A volta por cima

Após 11 meses e vencendo a desconfiança de muitos, Ribeiro teve a ajuda de muitas pessoas para que pudesse readquirir a confiança perdida. “Foi um momento muito difícil, tanto na minha carreira de jogador, quanto na minha vida. Tive o apoio de um grande amigo, que nos deixou essa semana, o Dilnei. Ele me ajudou muito, principalmente, na parte psicológica. Sempre antes dos jogos, ele aplicava uma injeção para dor, escondido dos demais, e começava a dizer ‘você pode, você consegue, você depende da sua mente, sua cabeça é tão boa, que ninguém fará gol em você’. Isso ia aumentando a minha adrenalina e o desejo de vencer. Posso dizer que ele foi o responsável 90% na minha volta ao futebol”.

 

Foi um momento muito difícil, tanto na minha carreira de jogador, quanto na minha vida. Tive o apoio de um grande amigo, que nos deixou essa semana, o Dilnei.

 

Hoje, aos 39 anos, Eder também não esquece dos amigos que fez dentro do Água Verde, os quais, também depositaram total confiança na sua pessoa. “Pelas circunstâncias, eu estava fora em 2011, afinal, você arriscaria um título em um goleiro que ficou 11 meses parado? Entretanto, numa conversa com o Rolf Porath, ele foi muito sincero e disse que já tinha um goleiro para aquele ano. Mas como eu precisava acreditar em mim, mesmo se ninguém acreditasse, fiz a proposta para ele: ‘me dê essa chance e você só precisará me pagar se o time for campeão’. No fim, recebi tudo certinho”, declara, aos risos.

Outro diferencial daquela equipe, segundo o atleta, era a união e o estilo “família” que o clube pregava, com seus jogadores, comissão técnica e torcedores. “Éramos muito unidos e cada um respeitava a história do outro. Tínhamos jogadores experientes, mesclados com atletas jovens, e eu confiava muito em cada um deles. Isso foi fundamental para a conquista daquele troféu”, ressalta. “Por isso, não posso deixar agradecer ao Rolf Porath, um amigo de uma honestidade gigante, uma pessoa que também devo muito. Também ao ‘Zigão’, que permanece em nossa memória e no nosso coração. Um dia ele me deu um abraço e falou que me amava. E a todos aqueles que sempre me ‘incomodavam’ no futebol, os melhores atacantes que enfrentei, a cada torcedor que aplaudiu e, ao mesmo tempo, aqueles que vaiaram. Todos me fizeram ser uma pessoa melhor”, acrescenta.

 

A união demonstrada pelo time se transformou em título (Foto: Arquivo JP)

O presente e o futuro

Neste momento de pandemia, a saudade de voltar a atuar é notória no cotidiano do arqueiro. “Por outro lado, eu estou tendo mais tempo com a minha família e, às vezes, devido ao futebol, deixamos isso de lado. O futebol faz falta, sim, e eu acredito que o maior desafio será voltar em alto nível, além de uma equipe que dê o suporte necessário, para que possamos fazer um bom trabalho. Tenho certeza de que posso, ainda, jogar bem mais uns dois anos, afinal tenho uma mente jovem ainda”, brinca.

 

O futebol faz falta, sim, e eu acredito que o maior desafio será voltar em alto nível, além de uma equipe que dê o suporte necessário, para que possamos fazer um bom trabalho.

 

E com relação ao futuro, o jogador diz que, dificilmente, Pomerode poderá vivenciar outras finais como aquela. “Tínhamos o melhor campeonato da região, jogar em Pomerode era o ápice de qualquer jogador. Vencer o Campeonato da LPD, então, acrescentava muito ao seu currículo. Só que, infelizmente, hoje vemos mais atletas preocupados em ganhar dinheiro, sem qualquer identidade com o clube. Só uma mudança profunda poderá mudar essa situação”, finaliza Eder.

 

O jogo

Foi no dia 10 de julho de 2011, um belo domingo de sol, que Água Verde e Botafogo entraram em campo, no Estádio Leopoldo Krueger, em Testo Alto, para decidir o Campeonato Regional da LPD – Taça Cidade de Gaspar. Os donos da casa, em virtude da vitória no primeiro jogo, por 2 a 1, tinham a vantagem de jogar pelo empate no tempo normal, para conquistar o tão sonhado caneco. Já o Alvinegro do Wunderwald não tinha outra opção, senão lançar-se ao ataque para conquistar duas vitórias: uma no tempo normal e outra na prorrogação.

A primeira parte do desafio, o time do Wunderwald conseguiu, graças aos gols marcados no primeiro tempo. Logo aos nove minutos, após cobrança de escanteio de Neto, pela direita, Eder saiu mal e o lateral Ezequiel cabeceou para o gol. Maiquinho ainda tentou tirar, mas a bola ultrapassou a linha fatal. Já aos 27 minutos, após um lançamento da zaga alvinegra, Pinheiro apareceu na cara do gol, só tendo o trabalho de colocar no canto direito e ampliar a vantagem para 2 a 0. No segundo tempo, o placar manteve-se inalterado e a decisão foi para o tempo suplementar.

 

(Foto: Arquivo JP)

Como não poderia deixar de ser, o Botafogo partiu com tudo para cima do Água Verde na prorrogação, uma vez que só a vitória interessava. Por isso, foi praticamente um jogo de ataque contra defesa. No entanto, devido à obrigação de ter que fazer um gol, o Alvinegro não conseguia encaixar boas jogadas, o que facilitava o jogo defensivo dos donos da casa.

Já no segundo tempo, dois lances poderiam ter mudado o rumo da partida. Num cruzamento, o goleiro Eder acabou escorregando e, por pouco, a bola não sobra para Tuli “matar” a partida. Ou ainda, a arrancada de Tropeço que, no final do jogo, partiu livre em direção ao gol adversário, driblou Alan e chutou pela rede do lado de fora, para desespero dos torcedores. No entanto, quando o árbitro Ricardo Gonzaga apitou pela última vez, a alegria tomou conta do Estádio Leopoldo Krueger. Graças à melhor campanha na primeira fase, o empate deu o título à equipe de Testo Alto, após quatro anos de espera.

 

A alegria da conquista, dividida com a sua filha Kaylin (Foto: Arquivo JP)

Em votação realizada pela imprensa que cobriu a competição, Neto (Botafogo) e Alírio (Água Verde) foram escolhidos os destaques da final. A defesa menos vazada foi a do Botafogo, representada pelo goleiro Alan, com 16 gols sofridos, em 15 jogos. Já a artilharia ficou com Thiago, do Água Verde, que balançou as redes em 14 oportunidades. A diretoria do clube também ofertou um troféu ao atacante Tropeço, que marcou 11 gols ao longo da competição. O troféu disciplina também ficou com o Botafogo, que terminou o campeonato com 22 cartões amarelos e três vermelhos.

 

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