Cultura

Do palco à sala de aula, os aprendizados do teatro

Professores revelam como o teatro ajudou em seu desenvolvimento na sala de aula e em sua profissão

15 de março de 2025

Karen, Bruna e Matheus. (Foto: Nati Takano)

Em Pomerode, um grupo de teatro tem contribuído não só com a cultura da cidade e com o desenvolvimento pessoal dos atores, mas também com suas carreiras profissionais. O Grupo de Teatro Rá-Tim-Bum reúne pessoas apaixonadas pela arte cênica, como os professores Karen Arévalo, Matheus Reif Conradt e Bruna Reinke Pedretti, que encontraram no teatro uma ferramenta poderosa para o crescimento pessoal e profissional.

Karen Arévalo, coordenadora pedagógica e professora de espanhol, ingressou no grupo em março de 2024. Colombiana, Karen encontrou no teatro um espaço para enfrentar desafios pessoais, como a barreira do idioma e a timidez no palco.

“Eu sempre fui uma pessoa apaixonada pela arte, sempre gostei escrever contos, roteiros para teatro, fazer make-ups, montagem teatrais, e quando surgiu a oportunidade de ingressar em um grupo de teatro, pensei que seria uma nova experiência. Encontrei um espaço que faz de minhas semanas mais leves, onde eu consigo trabalhar com minhas próprias inseguranças, medos, sonhos. Eu fiquei apaixonada pelo Grupo Ra-Tim-Bum, tivemos uma grande conexão, a Professora Leticia, que é maravilhosa, além de seus ensinamentos, também me deu a possibilidade de ajudar com um roteiro teatral para uma montagem na turma infantil, que espero por continuar contribuindo sempre. Entrar no grupo foi a melhor decisão que tomei, onde simplesmente posso ser eu”, afirma Karen.

Matheus Reif Conradt, de 25 anos, instrutor de idiomas, começou no grupo em junho de 2024 a convite de uma amiga. Apesar da ansiedade inicial, ele superou o nervosismo e ganhou confiança para interagir com o público.
Eu já gostava do teatro quando era criança, e participava das aulas extracurriculares do meu colégio. Comecei no teatro no grupo Ra-Tim-Bum por convite da minha amiga Karen, como uma atividade divertida e descontraída para minha rotina; e quando cheguei para a primeira aula que descobri que a professora era a Letícia, outra grande amiga minha. Sou uma pessoa bastante ansiosa, assim que os primeiros momentos eu considero terem sido especialmente desafiadores, eu ficava bastante nervoso, esquecia minhas falas, não sabia o que fazer com meus braços, não me movimentava. Mas com o passar das aulas e a ajuda da professora Letícia e colegas, hoje estou muito mais tranquilo para pisar no palco”, revela.

Bruna Reinke Pedretti, a mais jovem do trio, com 18 anos, buscou no grupo uma forma de realizar seu sonho de atuar. Eu decidi realmente botar em prática o meu sonho, algo que já tinha em mente por um bom tempo, que é ser atriz e buscar conhecer mais desse mundo do teatro e ver como me sinto estando neste meio. Eu diria que foi uma mistura de vários sentimentos ao mesmo tempo: nervosismo, o medo de talvez esquecer alguma fala ou o medo de não conseguir passar os sentimentos de um personagem que está no papel para a realidade. Mas, ao mesmo tempo, fomos nos acostumando, e ter o conforto dos nossos colegas, que já passaram por algumas apresentações, e uma professora que sempre esteve ao nosso lado para nos auxiliar, ajudou de uma maneira inexplicável”, declara.

Para Karen, o maior desafio tem sido o idioma, até pelo receio de estar em um palco precisando falar em uma língua que não é a sua nativa. “Fizemos a obra Copabacana em novembro, na qual eu interpretei a Pompeia. Foi uma personagem divertida, que não tinha nem medo nem vergonha de nada, igual a mim neste sentido (risos), mas em outras peças precisei interpretar uma personagem completamente distinta à minha personalidade e isso foi algo simplesmente incrível, poder explorar os sentimentos e emoções desde um sentir, mas de dentro para fora”, afirma Karen.

Karen Arévalo. (Foto: Nati Takano)

A professora e coordenadora também revela que se considera alguém completamente expressiva, que não consegue esconder suas emoções, mas que o teatro a ajudou a ter mais segurança em si mesma, especialmente no momento de falar com outras pessoas.

“Ser professor é uma profissão teatral, onde gestos, movimentos e tom de voz são essenciais. Inclusive, nossos diretores, Ricardo e Marina, decidiram colocar aulas de teatro na KNN como parte de nosso treinamento semanal, e está dando resultados muito bons na equipe, tivemos o ano passado um show de talentos onde fizemos a montagem do um conto de natal que foi interprestado pelo grupo pedagógico em 4 idiomas distintos”, comenta Karen.

Para Matheus, o teatro foi uma forma de também desenvolver mais segurança em sua oralidade, o que o ajudou a viajar para a Argentina e conhecer a cultura e pessoas falando em espanhol, sem o medo de estar certo ou errado. “Aplicar dinâmicas do teatro nas aulas tornou o aprendizado mais descontraído. Isso ajuda os alunos a aprenderem com mais naturalidade, e eu também me desenvolvi ao usar essas técnicas para criar momentos únicos nas aulas”, afirma.

Matheus Reif Conradt. (Foto: Nati Takano)

 

A prática no teatro ajudou Bruna a se soltar e explorar o improviso, uma habilidade que também leva para suas aulas, onde usa cenas teatrais para ensinar idiomas e incentivar a criatividade dos alunos.

“Cada atividade feita nas aulas de teatro nos ajudou muito, seja em linguagem corporal ou até mesmo a nossa luta interna de tentar retratar algum personagem. Acredito que ter apresentado a peça Copabacana nos ajudou muito a ver a realidade de um palco e como funciona uma apresentação na prática. Aprendemos coisas que nunca aprenderíamos a não ser na prática, estando ali no palco, apresentando e sentindo toda a energia. Acredito que nos ajudou a saber improvisar muitas das vezes, e até mesmo incluir o teatro nas aulas para alunos que se interessam. Eu mesma já fiz ideias de cenas de improviso com os meus alunos, usando o inglês para praticarem tanto o idioma quanto aprenderem a se soltar mais”, revela.

Bruna Reinke Pedretti. (Foto: Nati Takano)

 

Um impacto profissional e pessoal

O teatro tem sido mais do que um hobby. Para esses professores, ele oferece benefícios que vão além do palco, transformando suas abordagens em sala de aula. Seja aprimorando a expressividade, a segurança ao se comunicar ou o uso de dinâmicas criativas, o impacto é notável. “Ser parte do grupo é uma forma de terapia e também uma oportunidade de crescimento constante”, resume Matheus.

Karen, Matheus e Bruna compartilham um sentimento comum: gratidão por essa jornada artística que tem influenciado não apenas suas carreiras, mas também suas vidas pessoais. “Estou muito empolgada com este novo ano, já que teremos duas apresentações. Eu tenho muito orgulho de meus colegas e do trabalho incrível que fazem, de minha professora. O grupo Ra-Tim-Bum vai seguir deixando o teatro em alta, e que, aos poucos, vai tomar mais e mais força na cidade de Pomerode”, declarou Karen.

“O teatro nos ensina a nos expor, a enfrentar nossos medos e a explorar nossa criatividade. É uma experiência que todos deveriam vivenciar. Não tenham medo de seguir o coração e começar aquilo que verdadeiramente amam. Apesar das dúvidas ou do julgamento alheio, use, viva e consuma a arte e se o que seu coração deseja é começar o teatro, abrace esse amor e pense: Qual a forma mais bonita de amar, senão aquela pela arte?”, conclui Bruna.

Com apresentações marcadas e novos projetos para 2025, o Grupo de Teatro Rá-Tim-Bum continua sendo um espaço de expressão, aprendizado e transformação para seus integrantes. E, para esses professores, a arte do palco é um reflexo do que ensinam e aprendem todos os dias: o poder de transformar vidas pela criatividade.

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