Bombeiros

Bombeiros de Pomerode relatam sua experiência em Presidente Getúlio

Cidade arrasada, pessoas desoladas, muita destruição… Mas a força de um povo guerreiro motivou nossos homens, em prol da reconstrução.

25 de dezembro de 2020

A enxurrada do último dia 17 de dezembro, em Presidente Getúlio, deixou grandes prejuízos para a região. Mas, por outro lado, mostrou a força do povo catarinense, tanto a população local, que não está medindo esforços para a recuperação das cidades, quanto as pessoas que, de alguma forma, se prontificaram a ajudar, neste momento difícil.

Um bom exemplo foram as corporações de Bombeiros Voluntários, de várias cidades de SC, que estiveram no local, para auxiliar, tanto na ajuda humanitária, quanto no trabalho de limpeza e localização de corpos. E um dos que estiveram à frente desta logística foi o comandante da corporação de Pomerode, Carlos Hein, juntamente com uma comissão formada por integrantes de outras corporações e da Associação dos Bombeiros Voluntários no Estado de Santa Catarina (Abvesc). “Logo no dia 17 pela manhã, entrei em contato com o comandante da corporação de Presidente Getúlio, para colocar a estrutura do CBVP à disposição, no que diz respeito a recursos de pessoal e equipamentos”, destaca.

 

Montamos um esquema com as outras corporações associadas à Abvesc para que, pelo menos, 20 bombeiros estivessem na cidade, foram os da corporação local. E, para nossa satisfação, todos os dias, esse número foi ultrapassado.

 

No fim do dia, com a realização de campanhas de arrecadação de donativos, a sede dos Bombeiros Voluntários se tornou um ponto de arrecadação e logística. “Naquela mesma noite, já realizamos o primeiro transporte de materiais para aquela cidade. E, também, participamos de uma reunião, para definir o plano de ação voltado aos próximos dias. Naquela noite, também definimos um esboço da participação de nossos homens nos trabalhos”, enfatiza o comandante.

Portanto, já no dia seguinte, uma equipe composta por mais sete Bombeiros Voluntários rumou a Presidente Getúlio. “Montamos um esquema com as outras corporações associadas à Abvesc para que, pelo menos, 20 bombeiros estivessem na cidade, foram os da corporação local. E, para nossa satisfação, todos os dias, esse número foi ultrapassado”, relata Hein.

 

Foto: Divulgação


 

Os trabalhos

Ainda segundo o comandante, a cidade como um todo teve reflexos dessa enxurrada, apesar dos maiores estragos terem sido concentrados no bairro Revólver. “A geografia da região, muito parecida com a nossa – em forma de Vale -, potencializou os estragos. Isso porque, além do grande volume de chuva, houve muitos deslizamentos nas cabeceiras e esse detritos desceram pelo curso do ribeirão, destruindo tudo pela frente. Por isso, a nossa principal dificuldade, no primeiro dia, foi o acesso, dificultado pelos escombros restantes da enxurrada, e a falta de infraestrutura, como energia elétrica e internet. E, conforme os dias iam passando, o trabalho passou para a busca das pessoas desaparecidas, que terminaram na última terça-feira”, frisa Hein.

 

A nossa principal dificuldade, no primeiro dia, foi o acesso, dificultado pelos escombros restantes da enxurrada, e a falta de infraestrutura, como energia elétrica e internet. 

 

A situação lembrou muito a vivida por Pomerode, em março de 2011. “Apesar das características diferentes, o cenário era muito parecido. Único diferencial é que aqui, praticamente, houve água e lama, num volume muito grande. Já no Alto Vale, foram muitos detritos, em virtudes dos deslizamentos. E, claro, não tivemos óbitos por conta daquela enchente. Mas as lembranças, com certeza, vêm à tona”.

Outro aspecto evidenciado por Hein foi a solidariedade do povo pomerodense. “Recebemos muitos donativos e essa mobilização em prol da população do Alto Vale nos sensibilizou. Com isso, tivemos ainda mais força pra continuar o nosso trabalho, sabendo que, quando cada um faz a sua parte, todos ganham. Muito obrigado, Pomerode”, finaliza.

 

Foto: Divulgação


 

Confira o depoimento de alguns dos Bombeiros Voluntários pomerodenses que estiveram em Presidente Getúlio:

 

José Roberto da Silva

Quando chegamos lá, demos de cara com uma situação extrema. O centro da cidade, onde está localizada a corporação, também foi atingido pela água e nos deparamos com diversas situações: casas arrasadas pela enxurrada e pelos deslizamentos, pessoas que perderam praticamente tudo… É uma experiência muito chocante, que só de falar, já nos emocionamos.

 

Ficamos muito agradecidos em poder auxiliar a população do Alto Vale. Para nós, foi muito gratificante podermos sair de Pomerode e realizar este trabalho de reconstrução.

 

O que me marcou e me deixava muito triste era olhar para um lado, e ver pessoas chorando; olhar para o outro lado, e ver mais pessoas chorando. Isso não tem como não tocar o nosso coração. Por isso, poder ajudar essas pessoas a minimizar o sofrimento que elas estavam passando, naquele momento, não tem como explicar.

Ficamos muito agradecidos em poder auxiliar a população do Alto Vale. Para nós, foi muito gratificante podermos sair de Pomerode e realizar este trabalho de reconstrução.

 

Paulo Ricardo Duarte

Foi uma grande experiência, tanto na parte do aprendizado, quanto na questão de poder auxiliar o próximo. Mas o local estava parecido com um cenário de guerra, com viaturas para todo o lado, gente limpando e batalhando para deixar tudo organizado.

No primeiro dia, fomos divididos em equipes e eu fui para a parte de vistoria, onde havia mais risco. Nosso trabalho era orientar as pessoas a procurarem um lugar melhor ou um abrigo, pois havia um risco iminente de chuva para aquele fim de semana. Com isso, o solo poderia se “soltar” mais rápido, em função de tudo o que já havia acontecido.

 

Nosso trabalho era orientar as pessoas a procurarem um lugar melhor ou um abrigo, pois havia um risco iminente de chuva para aquele fim de semana.

 

O mais legal é que a população não questionava nossas orientações. Além disso, ajudávamos pessoas que não tinham condições de buscar, tanto água, quanto alimento. Também realizamos um trabalho aquático, na busca de pessoas desaparecidas. E moradores que não foram tão afetados, se prontificavam a nos ajudar, com comida ou água. É um povo muito ordeiro e consciente.

Outro momento que me marcou foi quando fomos levar água para um morador do bairro Revólver, que estava em risco. E nisso, começou a chover, o que poderia causar ainda mais riscos. Primeiramente, ele não queria sair. Só depois de muita orientação, conseguimos tirá-lo de lá, graças a Deus.

 

Carlos Eduardo Demuth

Fomos convocados para essa força-tarefa de auxílio a Presidente Getúlio. Na quinta-feira à noite, mobilizamos o pessoal e o equipamento, para sexta-feira de madrugada, nos deslocarmos para lá.

Ao chegar, conversamos com o comando e fomos orientados a realizar vistoria de rio. Nosso trabalho era vistoriar as margens e o interior do rio, à procura de indícios de desaparecidos, corpos e, até mesmo, outros materiais, como carros. Também auxiliamos no regaste de animais, muitos mortos, infelizmente. A força da natureza é gigantesca.

Se de um lado havia muitas famílias desoladas, por terem perdido amigos, parentes e bens materiais, por outro, vimos a força da população, em querer se reerguer.  

 

Fazer parte deste processo é um privilégio, afinal, estamos aqui para ajudar, neste momento triste. Todos deram e continuam dando o seu melhor. Temos dificuldades, sim, mas aos poucos, vamos alcançar nosso objetivo.

 

Em 2008, participei dos trabalhos no Morro do Baú, onde fiquei por três dias. Praticamente, tudo pode ser comparado, porém, a extensão da destruição em Presidente Getúlio foi muito maior, com muito mais destroços e árvores.

Fazer parte deste processo é um privilégio, afinal, estamos aqui para ajudar, neste momento triste. Todos deram e continuam dando o seu melhor. Temos dificuldades, sim, mas aos poucos, vamos alcançar nosso objetivo.

 

Foto: Divulgação


 

Confira o vídeo, com alguns momentos vivenciados no Alto Vale:

Crédito: José Roberto da Silva


 

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